domingo, 26 de julho de 2015

Quando os pais e os filhos são PHDA



Como se sabe a PHDA é maioritárimante de origem genética ou seja na maioria dos casos teremos pelo menos um dos pais que também será portador. Se pensarmos que a grande maioria dos PHDA estão a ser educados por PHDA não diagnosticados, veremos que a dificuldade na educação de uma criança será acrescida de algumas dificuldades.

Tem sido cada vez mais comum entrarem nos consultórios dos psiquiatras, pais com filhos diagnosticados com PHDA e que vão encaminhados pelos especialistas que acompanham os filhos. Ao realizarem o disgnóstico nos filhos deparam-se com pais que se reveem no comportamento dos filhos e que acabam por confirmar que um dos pais também é portador da PHDA.

Até há algum tempo acreditava-se que a PHDA era uma perturbação da infância que passava na adolescência. Atualmente verificou-se que tal afirmação não é verdadeira, segundo alguns estudos metade das pessoas com PHDA na infância, mantém a perturbação na vida adulta. Sabe-se hoje que quanto mais tardio for o diagnóstico e o tratamento maiores serão os sintomas e as ocorrências de comorbilidades, assim como o impacto da PHDA sobre a vida adulta.

Quando os pais começam a refletir sobre o comportamento do seu filho e de como é semelhante ao seu na mesma idade, como eram impulsivos ou hiperativos, como lhes custou a vida escolar, começam por reparar que são um desastre em casa, que precisam do apoio constante da esposa ou do marido para conseguir realizar as tarefas ou compromissos. Mas isso também acontece no trabalho, eles se despistam, demoram mais tempo para realizar as suas tarefas e muitas vezes precisam que um colega faça de secretário.

Os adultos têm acesso a mais recursos do que as crianças e tentam ao longo da vida arranjar estratégias para superar as suas dificuldades. Mas eles sabem que rendem menos do que poderiam render. O que acontece é que muitas vezes não se apercebem disso até que o filho seja diagnosticado, pois nunca ninguém lhes disse nada.

Um pai portador de PHDA com um filho também portador tende a compreender e aceitar melhor o filho e as suas características, por vezes ele desculpa-o e tenta apoia-lo. Mas alguns pais tentam que os seus filhos sejam melhores do que ele e acabam por exigir muito mais do filho.

Quanto um dos pais e o filhos tem PHDA a vida familiar é afetada. O facto do pai ser PHDA ajuda a reduzir o estigma do filho, pois ele não é o único, a criança acaba por se sentir acompanhada e compreendida apesar de se aperceber que a perturbação poderá acompanhá-lo na vida adulta, mas não é algo raro ou estranho.

O que pode acontecer na dinâmica de uma família assim é:

- Existe um aumento da desorganização. É mais difícil lembrarem-se de compromissos, de tarefas, mesmo de organizar o dia-a-dia familiar

- Maior dificuldade em controlar a execução das tarefas. Seja em priorizá-las, seja em acabá-las.

- O Pai não portador sofrerá uma carga maior de responsabilidades. Recairá sobre ele a responsabilidade de se lembrar de tudo, de priorizar e organizar toda a vida familiar.

- Será uma família com maior dificuldade em gerir o controlo emocional, será mais difícil tolerar as frustrações, o que contribui para a diminuição da confiança para enfrentar as dificuldades de cada dia.

- Dificuldade em controlar as emoções e a agressividade, principalmente na criança. O pai deverá tentar ter mais controlo.

- Haverá maior dificuldade nas relações interpessoais, a criança não se sente igual aos outros e tem baixa auto-estima. O pai por vezes fica irritadiço quando não lhe dão a razão, mas esconde melhor as suas emoções que o filho.

- Maior dificuldade na realização de planos a longo prazo. O planeamento em geral falha, devido à má preparação do plano passo a passo e na realização de prioridades.

- Terão um maior número de projetos inciados e interrompidos para iniciar um novo projeto.

- Ocorrerá um maior grau de procrastinação. O eterno deixar para o dia seguinte.

- Poderá existir uma maior tendência para atividades criativas, como pintura, teatro, dança, desporte. Neste momentos a inércia diminuirá e podem se descobrir novas capacidades.

- Há um maior risco de se tornarem dependentes das novas tecnologias: redes sociais, jogos, chat, ...

- A falta de comunicação pode gerar nas crianças o sentimento de que a PHDA não tem solução. "Se o meu pai é como eu e é mais velho, então a culpa não é minha".

- Ao realizar o tratamento adequado produz-se um sentimento de tranquilidade, pois ambos acabam por se sentirem mais calmos e focados.

Os pais que são portadores de PHDA têm a vantagem de saber como se sente o seu filho, de quão difícil pode ser ter que realizar uma tarefa simples. Mas tem a desvantagem de que por serem eles próprios PHDA sofrerem com a dificuldade que tem em gerir a educação do seu filho, dificuldades que podem ocorrer em termos de organização, planejamento, manutenção de regras, estabilidade emocional ...

Algumas dicas para melhorar a vida da família e apoiar a criança com PHDA:

- Estar sempre disponível para conversar abertamente sobre os problemas com o filho e com o cônjuge.

- Evitar o confronto quando as emoções estão intensas e descontroladas, é mais fácil conversar e chegar a um entendimento quando se fala com mais calma.

- Reconhecer as dificuldades de organização e planeamento. Utilizar post-its, quadros, calendários ou agendas para organizar o dia e os compromissos.

- Os pais devem estar em sintonia sobre a educação e regras a aplicar ao filho. Embora cada pai tenha uma maneira diferente de ser, deve existir uma sintonia no casal e um dos pais deve ser mais tolerante e o outro muito rigoroso.

- Tentar aumentar a autonomia da criança na toma de decisões e na organização. Mas ajudá-lo na organização sem que ele se sinta controlado.

- Ajudá-los na gestão do tempo de modo a evitar que cada tarefa se eternize. E não apenas com os estudos.

- Encontrar tempo para a pratica de exercício ou desporte.

- Ajudar a criança a encontrar amigos e a fortalecer as relações, para dar-lhe mais confiança.

- Estar atentos para para os momentos de desanimo, ira, desespero. Estando sempre disponíveis para ajudar e apoiar.

- Estar atentos para quaisquer sinais de que existe uma relação com a droga ou se há sinais de depressão.

- Estabelecer limites para o comportamento rebelde e irresponsável em casa. Por vezes eles tentam ser os "donos da casa" e ficam agressivos quando contrariados.

- Deve sempre procurar ajuda profissional e apoio de profissionais da educação, na escola ou faculdade.

- Estar atentos à passagem para a juventude. Eles podem se achar melhores e podem recusar o tratamento e acompanhamento. Eles querem ser como todos. Por isso, é importante observar se precisam ou não continuar com o tratamento. Tudo dependerá da sua evolução e pessoal, familiar, acadêmica, do desenvolvimento social, e como eles se sentem.

Traduzido de http://www.tdahytu.es/cuando-padre-e-hijo-tienen-tdah/

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