quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Medicada e concentrada

Ando nos últimos tempos a tomar o Concerta para ir trabalhar e ia notando algumas diferenças no meu comportamento e na minha actuação, ao ponto dos meus colegas perceberem se eu tomava a medicação ou não.Não era algo definido ou que eu me apercebesse de grande mudanças, em geral eram ténues e não lhes dava grande importância.

Claro que como uma boa PHDA eu fazia um "tratamento" aldrabado. Depois do conselho da pedopsiquiatra dos meus filhos, resolvi levar à coisa mais a séria e de maneira mais definitiva. Lá marquei uma consulta, mas foi sem grandes expectativas e com alguma reserva. Ia agora um psiquiatra de adultos diagnosticar-me PHDA??

A consulta decorreu de maneira excelente, com o médico simpático, mas profissional. Fui-lhe apontando algumas das minhas características, mas com a sensação de que não ia a lado nenhum e ele lá pelas tantas diz-me, bem já chega, com  metade disso já tinha o diagnóstico feito. Explicou-me que não me ia mudar e que ao fim de 47 anos eu já tinha adquirido algumas ferramentas para lidar com a situação. Mas que deveria continuar a tomar a medicação para trabalhar, sem esperar grandes mudanças.

Bem hoje estou de folga e com alguns assuntos pendentes para resolver, coisas que em geral adio para a tarde, para amanhã. Resolvi tomar a medicação ao pequeno-almoço e ver o que acontecia. Bem... fiquei surpresa, à hora do almoço eu já tinha tudo resolvido e ainda consegui ir tomar café com uma amiga.

Afinal, tenho que dizer ao médico na próxima consulta que a medicação muda, muda muito a maneira como o meu dia pode correr, claro que não vou tomar todos os dias, mas quando quiser/precisar de um dia mais organizado tomo de certeza.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A responsabilidade é da MÃE






Nas minhas andanças, como mãe, pelo mundo das crianças/jovens com dificuldades e características especiais apercebo-me de que a responsabilidade de lutar e resolver os problemas dos filhos cabe, quase, exclusivamente às mães.

Os pais pouco se envolvem, os que o fazem é como apoio à mãe e concordância com as suas atitudes e decisões (muito ajuda quem não atrapalha).

Essa será sem duvida uma luta solitária, onde a mãe tem que lidar com o diagnóstico do filho e com a sua integração na família, na escola e na sociedade.

Pensava eu que vivíamos numa época de igualdade, de divisão de tarefas, problemas, mas a divisão é bem mais simples, a mãe fica com os filhos e os seus problemas, o pai fica com o levar o filho ao futebol ( se for menino). Claro que há excepções, mas são tão poucas.

Nas salas de espera dos consultórios, dos hospitais, nas reuniões da escola vemos apenas a mãe a tentar explicar e fazer compreender as características da criança, as suas dificuldades. Aonde estão os pais? Muitas das vezes a trabalhar. Mas quando se realizam palestras sobre o tema quem vai? As mães. Mesmo quando se realizam grupos de ajuda são as mães que aparecem, cansadas, desesperadas... Se tentamos falar com alguns pais, eles não conseguem realmente explicar o que se passa com o filho, sim, eles sabem o nome pomposo do problema e que o miúdo dá muito trabalho.

Claro que falo principalmente da minha vivência com o PHDA, mas vejo muitas vezes essa situação a repetir-se noutras ocasiões. Como podemos querer mudar a visão do mundo sobre as crianças especiais, se muitas vezes não se consegue sensibilizar os pais? Os casais com filhos especiais tem uma percentagem maior de divórcios. No caso da PHDA essa percentagem é três vezes maior. Provocando que os pais acabem por sair de casa, ficando as mães sozinhas com o problema.

Não falo no meu caso especifico, pois o pai dos meus filhos vai a todas as consultas, a todas as reuniões da escola, debate o assunto, tem opiniões e estratégias, que foi obtendo com a experiência/ vivência dos problemas. Opiniões essas que as outras mães bebem como algo especial. Num grupo on-line com quase 2000 pessoas ele era o único membro masculino activo.Como ele se deve sentir? Orgulhoso, mas com a ligeira sensação de bicho esquisito e provavelmente sem perceber aonde estão os outros pais.

Provavelmente esses pais estão a trabalhar, mas fica a minha dúvida quando é que eles fazem planos de se envolver na vida do/a filho/a? Quando é que vão criar laços e cumplicidade com o/a filho/a? Em geral as crianças especiais precisam imenso de atenção, de exemplos que lhes demonstrem afecto, apoio a cada vitória. Esses pais não têm folgas? Mesmo nas conversas de café com amigos além de futebol e carros e politica não poderiam também ir informando as pessoas e desmistificando os problemas? Teriam que gastar algum tempo a informarem-se mais sobre o assunto, a aprender a viver com o/a filho/a. Isso seria excelente para as mães, pois teriam apoio e poderiam partilhar os problemas e as vitórias.

Acreditem as mães fazem tudo por um filho e conseguem, apesar de todo o esforço, mas seria maravilhoso poderem fazê-lo a dois.


sábado, 15 de fevereiro de 2014

A incompreensão




A sensação de incompreensão, de solidão que nos acompanha  no dia a dia é brutal. Magoa profundamente e deixa cicatrizes permanentes.

Lembro-me perfeitamente das minhas noites, na adolescência, das minhas lágrimas, da sensação de solidão, de incompreensão por parte de todos. Por isso, consigo entender o que os meus filhos passam e sentem. Como eles se podem sentir perdidos e sozinhos. Da importância de cada atenção recebida, de cada afeto.

Sim, eu mimo os meus filhos e faço questão de lhes demonstrar todo o meu afeto, todo o meu amor e de lhes reforçar o seu amor próprio. Tento fazê-los perceber o seu valor, como os seres humanos maravilhosos que são. Quero que eles percebam, algo que demorei imenso a perceber, que o respeito por nós próprios e pelas nossas características é fundamental para a nossa saúde mental, para o nosso bem estar. Que não podemos e não devemos passar a vida a tentar agradar o próximo, antes de nós mesmos, não nos podemos apagar. Sim, temos que viver em sociedade, temos que respeitar o próximo e nos tentar adaptar, mas jamais nos anular.

Ainda temos uma grande luta pela frente, sei que vou ter que secar muitas lágrimas, minhas e deles. É uma luta pelo respeito, pela compreensão da PHDA, de tentar fazer com que a sociedade se aperceba que que nem tudo o que fazemos é por mal, em geral foi mesmo sem querer, por impulso, por distração. Não foi por maldade, não foi por descaso ou por não nos preocuparmos.

Espero que os meus filhos e muitos dos PHDA's tenham a minha sorte de encontrar um companheiro que me compreende, que me aceita. Que sabe que me vou esquecer das coisas, das datas. Que vou deixar queimar mais uma refeição, pois não consigo estar quieta a olhar para refeição a espera que ela fique apurada. Mas que sabe que não me importo com as datas, com os dias de São Valentim, ou aniversários.

Nós precisamos sim, de alguém que nos entenda, que nos ouça, que não nos julgue. Alguém com quem podemos relaxar e sermos nós próprios.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Ser Mãe



Ser mãe é uma das maiores aventuras que podemos ter. É um sentimento sublime, único... um amor eterno!

Os meus filhos, como todas as mães pensam, são especiais, amorosos, sensíveis.

Os meus devido ao peso da genética, herdaram uma PHDA, pois ambos os pais são portadores. São crianças /jovens com alterações de comportamento, com uma impulsividade, com uma carência de aptidões sociais, distraídos, mas extremamente sensíveis, amorosos, honestos, de sorriso fácil.

Acredito que conseguimos, apesar de todas os dificuldades, superar as maiores obstáculos da educação. Eles sofreram bastante, pois de uma maneira física ou psicológica, foram vitimas de bulling, com algumas consequências e algumas cicatrizes na sua alma. A nossa principal preocupação sempre foi o de manter a estabilidade emocional deles, tivemos que deixar de lado as pressões pelas notas, pelos deveres, a filtrar a cassete dos professores sobre o serem distraídos, não usarem todo o seu potencial.

Sei que falhamos imenso em algumas coisas, por vezes sinto que falhei como mãe, não fui uma mãe modelo, deixei de lado aspectos que seriam importantes, nãos os levanto com o pequeno almoço pronto, pois cada um faz o seu, apesar de ter tentado estar sempre presente em todos os aspectos da sua vida. Algumas das características menos boas que eles apresentam agora serão uma consequência das minhas atitudes. Tentei sempre apoiá-los, e pelo que sofriam em sociedade, achei que os devia compensar em casa e ser mais compreensiva.

Somos uma família que pode ser definida como a Harmonia no caos,mas acima de tudo somos uma família feliz.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A PHDA não deve ser um problema



Não considero que a PHDA seja um problema de saúde, ou uma doença, pois significaria que teriam cura ou tratamento, o que não é o caso.

Muitas das vezes em que vamos a uma consulta saiu de lá com a sensação de que viver em sociedade significa encaixarmos-nos dentro de uma caixa, se temos este sintoma somos isto, se temos o outro somos aquilo e quando temos umas coisas de um e outras de outro não sabem o que fazer connosco, não tem caixa onde caibamos e depois tentam nos diminuir até cabermos em alguma caixa.

Nesta sociedade de iguais não podemos ser "out-box", não devemos ser diferentes e por isso não somos compreendido. Uma coisa que se torna frustrante é sermos analisados e "tratados" por pessoas ditas normais. Elas não sabem e não sentem na pele o que sentimos, pelo que passamos. Quais são as nossas reais dores, o que nos faz sofrer...

Por vezes apenas nos tentam "normalizar" para a vida em sociedade, por que não lutar por uma sociedade diferente, que nos comece a conhecer e a nos aceitar. Temos muitas caracteristicas diferentes, mas nem todas elas são más. A nossa ingenuidade, a nossa sinceridade a nossa falta de habilidade para fingirmos (sim, podemos fingir, mas não por muito tempo e isso nos custa imenso), a nossa alegria, efusividade, o nosso pensamento a mil, a nossa mente sempre com ideias novas ( nem todas aproveitáveis), a nossa criatividade.

Termos um filho adolescente que nos diz, mãe eu não tenho amigos, eu sou um "forever alone", jovens que se refugiam na família, no seu porto seguro, pois lá fora é mau, lá fora estão sozinhos ou são ignorados ou gozados e humilhados. Jovens carinhosos, meigos, doces, sensíveis, alegres, mas que não se conseguem controlar e fingir serem "normais" e mesmo que conseguissem, para estarem bem com os outros não estariam com eles próprios!

É extremamente duro e solitário fingirmos, e controlar-mos o que dizemos, o que fazemos. Não podemos ser nós mesmos e acabarmos por ser uma pessoa perante os outros, mesmo a família e ser outra pessoa na nossa mente, onde podemos sonhar, ralhar, e soltar as amarras. Eu passei por isso, na minha infância e adolescência, sempre controlada pela família, pela sociedade ao ponto de a minha própria família não saber que eu era, como eu pensava, o que eu sonhava. Mas uma das características da minha PHDA prevaleceu, sempre fui otimista, sempre a ver o lado positivo das coisas, sempre a tentar ajudar alguém.

Talvez seja esse o motivo pelo qual escolhi a minha profissão. Enfermagem em urgências

Mas tive algo de muito bom na minha vida, um pai portador de PHDA, que me apoiava, mesmo que não concordasse, que era um sonhador, que via a vida de maneira diferente dos demais, sempre alegre a assobiar as suas canções. Mais tarde reencontrei um grande amigo que passou a ser o mais que tudo, que também é um PHDA, que vê a vida com outros olhos, e que teve a sua cota parte de sofrimento. Mas que me ajudou a me libertar e a me mostrar como sou ao mundo.

Foi o primeiro passo para a luta que agora travo pelo reconhecimento e aceitação da PHDA, pois só quem sente na pele, sabe o que é e como doem os olhares, as criticas.

Eu sou Portadora de PHDA e gosto da pessoa em me tornei, louca, alegre e com muito orgulho na minha família.