terça-feira, 21 de junho de 2022

PHDA e as expectativas

 

Há uns anos ao assistir uma palestra sobre PHDA o médico disse que tinha um menino diagnosticado, que os pais não se separavam porque nenhum deles queria deixar o outro sozinho com o filho. O que eu percebi desde relato e que me incomoda até hoje é que nenhum dos dois queria ficar com o filho e que deixar o outro com ele era demasiado pesado.

Eu tenho 3 filhos com PHDA e cada um com comorbilidades diferentes. Nunca me passou pela cabeça a ideia de os deixar, ou de que eram demasiado para mim. São meus filhos e é a minha obrigação educá-los, apoiá-los, guiá-los e claro amá-los. Foi minha opção ter filhos, foi minha escolha consciente.

Esta situação fala muitos dos pais, mas e do filho? Um filho que nenhum dos progenitores quer? Um peso, um estorvo na vida que idealizaram? Como fica e cresce uma pessoa assim? Imaginem como seria na escola e as reuniões de pais? Os professores debitam todas as queixas sobre esse aluno e os pais pedem desculpas? Que não sabem o que fazer que o menino está medicado e deveria estar melhor? 

Os meus pais não foram a este extremo, mas eu fui e sou um estorvo para a minha mãe, só tenho defeitos, nunca fiz nada certo ou melhor ainda nunca fiz nada na vida. E com isso consigo tentar pôr-me no lugar desta criança que não têm o seu porto seguro em nenhum lado. A sensação é horrível e a culpa é dele, porque por mais que se esforce nunca acerta e ele tem de se esforçar muito, mas muito mesmo.

Porque a maioria dos pais cria uma expectativa em relação aos filhos e quando eles não cumprem a mesma é um desastre. Será assim tão importante o filho ter as melhores notas, o melhor comportamento em todas as situações? Será que esses mesmos pais que se sentem frustrados com o filho realmente conhecem o filho que têm e não o filho que desejam e são incapazes de adaptar essas expectativas em relação às crianças. 

Não sou melhor que ninguém, cometi vários erros na educação dos meus, mas eu tenho apenas dois objetivos para eles, que sejam boas pessoas e sejam felizes. Simples assim. Eu não vou viver a vida deles e não quero que eles vivam a minha. Eles são seres maravilhosos que entraram na minha vida e não abriria mão de nenhum deles por nada neste mundo, exceto se fosse para a felicidade deles.

Penso ainda se não seria o caso desses pais serem aconselhados a fazer terapia parental? Na minha opinião os pais precisam muito mais de terapia do que os filhos (ele está apenas a ser ele). E a terapia que é feita com essa criança é para "normaliza-la" ou para a ajudar a se aceitar e ser feliz?

Alguns médicos diziam-me para lhes dar a medicação de forma continuada, pois assim nos fins-de-semana em casa estariam mais regulados. Conheço um rapaz que fez isso e continua medicado na idade adulta pois ele não se suporta sem a medicação?! Pode haver algo mais triste do que não nos aceitarmos como somos, pois um comprimido nos torna mais "aceitáveis"

Não concordo com essa maneira de pensar e de agir, mas essa é apenas a minha opinião sobre como lidar com a PHDA e quem acompanha o Blog já deve saber disso.