sábado, 23 de maio de 2015

Eu e a PHDA


Como acontece com a maioria das mulheres adultas só fui à procura do meu diagnóstico de PHDA depois do diagnóstico dos meus filhos e a conselho da pedopsiquiatra. Como já referi antes acreditava que iria a uma consulta e que viria de la´com um raspanete do médico, pois eu não tinha nada.

Com os anos fui formando estratégias para lidar com as minhas características, eu não aceito que a PHDA seja uma doença, é sim uma alteração neurológica do funcionamento do meu cérebro, com isso tenho características diferentes, tenho uma visão diferente da vida. Eu tinha e tenho uma maneira positiva de encarar a vida, sou mesmo a típica pessoa de que se a vida me dá limões vou fazer uma limonada e arranjo sempre açúcar para lhe por.

Quando saí do consultório com o diagnóstico da PHDA, saí com a certeza de ter descoberto a explicação para algumas das minhas características, não arranjei uma desculpa. Sim, eu sou assim é não vai ser aos 47 anos que vou me redescobrir e mudar, eu gosto de mim, da minha maneira de ser. Apenas arranjei uma ajuda para a minha distração, um coadjuvante para funcionar melhor nesta sociedade egoísta e apressada onde já não tempo para tentarmos perceber os outros e principalmente paciência para os aceitarem.

O que mudou neste ano? Algumas coisas, estou mais assertiva (mas com menos paciência), estou mais pontual, não me esqueço de pagar as contas e a procrastinação está bem menor. Quanto tenho que fazer alguma coisa faço, já não adio tanto. Claro que continuo a usar a agenda para tudo, mas anoto tudo, verifico sempre a agenda.

A medicação mudou algumas coisas básicas, mas o facto de ter tomado consciência do "problema" existente ajudou-me a montar outras estratégias, principalmente na educação dos miúdos,na marcação de tarefas e na exigência da sua execução. Passei a perceber porque a pedopsiquiatra se referia a nós como a família da harmonia no caos. Sei por vezes era um caos tentar gerir a vida familiar, ter que lidar com a minha desregulação da atenção e com as tarefas de uma mãe de família.

E agora a pergunta qual o feito negativo da medicação? Para mim foi uma redução drástica na paciência e na tolerância com os outros, tenho menos paciência para a estupidez, à qual anteriormente achava graça, estou mais assertiva nas respostas, para quem era conhecida por ser demasiado boazinha, agora tenho sempre uma resposta para dar e nem sempre simpática. Também aumento ligeiramente a minha tensão arterial e os meus batimentos cardíacos.

Mas no meio de todo esse caos, eu e o meu mais que tudo, também ele PHDA, conseguimos educar e equilibrar três filhos PHDA com as suas comorbilidades individuais e as suas características especiais. Criamos uma família harmoniosa, onde temos orgulho por todas as conquistas dos nossos rebentos e recebemos o seu respeito e amor.

Continuo com a minha certeza de que a PHDA não é nenhuma doença, nenhum bicho de sete cabeças, é apenas uma alteração neurológica do funcionamento do nosso cérebro e que mesmo sem o diagnóstico somos capazes de fazer as mesmas coisas que os demais mortais, principalmente se tivermos ao nosso lado pessoas que nos entendam, que nos aceitem, mas principalmente que nos ajudem. Precisamos sim que nos lembrem dos compromissos, das horas, das datas especiais, que percebam também e aceite que o que fazemos ou esquecemos de fazer não foi de propósito ou por não nos importarmos ou por sermos egoístas e irresponsáveis.

Se devem ajudar as pessoas com PHDA? sim, se as devem aconselhar a procurar ajuda? de certeza. Antes de tudo devem aceitá-las, compreende-las, nós somos capazes de tudo, não somos deficientes, não somos burros ou atrasados (excepto nas horas). Somos ser humanos normais com um funcionamento diferente. Amem-nos... e serão imensamente retribuídos

segunda-feira, 18 de maio de 2015

A PHDA e as mulheres



Através de várias pesquisas sobre a prevalência de género na PHDA sabemos que proporção sexual varia em cerca de 1: 3 a 1: 6 (meninos: meninas) (Ramos-Quiroga et al., 2006). No entanto, esta proporção se vai igualando em adolescentes e é equivalente na idade adulta. No entanto, a PHDA é diagnosticada e tratada com mais frequência em homens que em mulheres (Ramos-Quiroga et al., 2006).

 De acordo com o Centro Nacional de Recursos em AD / HD Crianças e Adultos com AD / HD (CHADD) pouca é a informação que faz referencia à PHDA nas mulheres, devido aos poucos estudos nesta população. A maioria das informações que temos sobre esta população é baseada na experiência clínica dos profissionais de saúde mental que se especializam no tratamento de mulheres adultas.

Esta lacuna de informação, possivelmente, é porque as mulheres não são diagnosticadas enquanto são crianças e que muitas vezes passam despercebidas, e são sub-diagnosticadas devido as diferenças na expressão dos sintomas da PHDA (tem maior probabilidade de apresentarem o tipo predominantemente desatento sem hiperactividade e são menos propensas a ter mau desempenho escolar e/ou problemas de comportamento).

Na prática clínica, vemos que muitas vezes, as mulheres começam a reconhecer a sua própria PHDA quando os seus filhos são diagnosticados. E há medida que vão aprendendo sobre a PHDA vão identificando padrões, sintomas e condutas semelhantes a quando elas eram jovens.

Já em 1994, Biederman et al., assinalam que as mulheres com PHDA apresentam maiores taxas de depressão major, ansiedade, transtornos de humor, o insucesso escolar e dificuldades cognitivas. Essas comorbilidades são geralmente diferentes daquelas consideradas em meninos com PHDA devido à acção directa da flutuação dos níveis hormonais nas mulheres.

As desregulações hormonais que afectam as mulheres podem levar a grandes mudanças de humor, irritabilidade e reactividade emocional. Estas começam na puberdade, incrementado os sintomas da PHDA na infância (menos reactiva e mais centrada no défice de atenção) e intensifica-se na adolescência e na vida adulta, sendo o distúrbio mais identificável nesta idade. Embora o número de mulheres identificadas com PHDA na idade adulta seja pequeno, acontece também que as alterações hormonais associadas com a menopausa intensificam novamente a reactividade emocional.

É Importante realçar que a diferença entre sexos não é nos sintomas, mas sim na variada expressão ou manifestação destas e no seu impacto na funcionalidade de homens e mulheres. A morfologia cerebral é igual em ambos os sexos, mas a expressão dos sintomas é muito diferente, já que se manifestam na dependência da interiorização do controlo sobre as suas actividades diárias. Se este controle é eficiente, actua em função das circunstâncias adaptando-se a elas, mas se esse controle não está interiorizado aparece como externo e a pessoa sente-se vítima das circunstâncias que controlam a sua vida e os seus esforços tornam-se ineficazes.

As meninas geralmente têm uma tendência a perder o controlo interno antes dos meninos. Na idade adulta, suas dificuldades podem ser ampliadas devido à sensação de impotência e baixa auto-competência, apesar de terem grandes qualidades, a tomada de decisões na sua vida irá gerar sérios problemas e frustrações. Como por exemplo:
 • Não sabem ou não conseguem exercer a sua liberdade.
 • Quando atingem 50 anos as alterações hormonais são ao vivo e sofrer de forma aguda.
 • Se são mães, o descontrolo interior, a desatenção e desorganização impedem que consigam o nível de organização necessária para levar a família.
 • No trabalho, os sintomas acima são exacerbados ante as demandas sociais.

 O Centro de Recursos Nacional de AD / HD Crianças e Adultos com AD / HD (CHADD) assinala que as mulheres diagnosticadas com PHDA em comparação com as mulheres sem PHDA são mais propensas a ter sintomas depressivos, têm níveis mais elevados de stress e ansiedade, têm mais tendência a atribuir os seus sucessos e as suas dificuldades a factores externos, como o azar (centro de controle externo), têm níveis mais baixos de auto-estima e as tomadas de decisões estão mais influenciadas pelos aspectos emocionais (reactividade emocional) que pelos processos análise e reflectividade.

É por esta razão que as mulheres com PHDA exigem intervenções e estratégias na aquisição:
 • Auto-controle e técnicas de controlo emocional.
 • Comunicação assertiva.
 • Análise guiada na solução dos problemas.
 • Compreender e aceitar os desafios da PHDA, identificando os seus pontos fortes e as suas debilidades.
 • Identificar as fontes de stress na vida diária e fazer mudanças sistemáticas na vida para reduzir os níveis de stress.
 • Simplificar a vida, hierarquizar e priorizar as suas necessidades e tarefas.
 • Procurar estrutura e apoio na família e amigos.
 • Procure orientação na gestão e manejo das crianças.
 • Encorajar um clima familiar positivo, emocional, cooperativo, com equidade na distribuição de tarefas com apoios emocionais.
 • Programação períodos de retiros diários para elas mesmas.
 • Canalizar o excesso de energia, a ansiedade e as emoções negativas através de actividades lúdicas, desportivas, artísticas, etc.
 • Desenvolver hábitos saudáveis de auto-cuidado, como a higiene do sono, uma boa nutrição, exercício, etc.

Traduzido de: http://www.fundacioncadah.org/web/articulo/tdah-y-mujer.html, por Anabela Gomes

sábado, 16 de maio de 2015

Uma familia PHDA




Sermos pais de seres humanos especiais é uma prenda… e um desafio.
Nós pais, há muito que aceitamos os nossos filhos com todas as suas características e a sua maneira de ser. Mas a sensação de incompreensão, de solidão que nos acompanha no dia-a-dia é brutal. Magoa profundamente e deixa cicatrizes permanentes.
Nós convivemos diariamente com várias destas crianças e o que conseguimos ver são crianças amorosas, meigas, mexidas, que nos dão um prazer enorme com as suas expressões, as suas saídas impulsivas, mas maioritariamente engraçadas, nas respostas. Mas é também comovente sentir as suas mágoas, sentir como estão magoadas por não serem sempre aceites ou compreendidas. Elas apercebem-se dos olhares reprovadores, da voz sem paciência.
Sim, acredito que será realmente aborrecido para algumas pessoas estarem num café e terem uma criança aos berros, a pular nas cadeiras, sempre a mexer e a correr. Mas será que essas mesmas pessoas não serão capazes de ver a alegria e a felicidade que emana dessa mesma criança? Tenho que fazer uma ressalva, nem toda a criança mexida, irrequieta é uma criança com PHDA, muitas vezes são simplesmente crianças. Algumas ultrapassam os limites. Não quer dizer que sejam ou venham a ser PHDA.
Muitas crianças fazem birras e choram e exigem.... mas aí o problema é educacional, pois as crianças sem limites ou sem regras podem por vezes comportar-se muito pior que um PHDA. Existindo ou não um diagnóstico a educação é fundamental a todas as crianças.
Pensem também o quanto é aborrecido para os PHDA serem rotulados de mal-educados por comportamentos impulsivos, que não conseguem controlar, antes de criticarem vejam se realmente aquela criança tem falta de educação, se tem falta de regras. Se todos os pais de crianças sem PHDA se empenhassem da mesma maneira que os pais de crianças com PHDA na educação dos seus filhos, todos eles seriam génios, muito bem-educados, comportados e organizados.
Os meus três filhos, devido ao peso da genética, herdaram a PHDA, já que ambos os pais são portadores (que chance tinham?). São jovens com alterações de comportamento, com impulsividade, com carência de aptidões sociais, distraídos, mas extremamente sensíveis, amorosos, honestos, de sorriso fácil. Como todos os pais, achamos que eles são especiais e tentamos fazê-los perceber o seu valor, como os seres humanos maravilhosos que são.
A nossa relação com eles é uma relação aberta e verdadeira, nós não lhes mentimos, eles não nos mentem, só assim conseguimos que eles confiem em nós.
Sempre lhes dissemos qual era o seu diagnóstico e o que era ser PHDA. Mas nunca lhes pintamos um quadro negro de uma deficiência. Parte desse quadro já eles o tinham no seu dia-a-dia, no relacionamento com os colegas, no trato por parte dos professores e da escola. Nós tínhamos que lhes mostrar que eles são capazes de muito mais e que são muito mais do que apenas um diagnóstico, eles portadores de PHDA, mas não são PHDA. Eles são capazes de tudo, basta que queiram e que façam o que gostam, com esforço e com apoio.
Quero que eles percebam, algo que demorei imenso a perceber, que o respeito por nós próprios e pelas nossas características é fundamental para a nossa saúde mental, para o nosso bem-estar. Que não podemos e não devemos passar a vida a tentar agradar o próximo, antes de nós mesmos, não nos podemos apagar. Sim!...  Temos que viver em sociedade, temos que respeitar o próximo e nos tentar adaptar, sem jamais nos anular.
Os portadores de PHDA têm muitas características diferentes, mas nem todas elas são más. A nossa ingenuidade, a nossa sinceridade, a nossa falta de habilidade para fingirmos (sim, podemos fingir, mas não por muito tempo, pois isso custa-nos imenso), a nossa alegria, a nossa efusividade, o nosso pensamento a mil à hora, a nossa mente sempre com ideias novas (nem todas aproveitáveis, claro) e a nossa criatividade são alguns dos nossos pontos positivos.
Não precisamos medicar os nossos filhos para que nos obedeçam, eles fazem isso sempre que se lembram, medicamo-los para se adaptarem melhor à vida em sociedade, à vida escolar. Para serem melhor aceites pelos seus pares. Os meus filhos por vezes dizem-nos ”é melhor hoje eu tomar o comprimido, quero causar uma boa impressão” quando vamos conhecer alguém novo. Eles notam a diferença do seu comportamento e que são melhores aceites assim.
 Porém, termos um filho adolescente que nos diz, mãe eu não tenho amigos, eu sou um "forever alone", dói. São jovens que se refugiam na família, no seu porto seguro, pois lá fora é mau, lá fora estão sozinhos ou são ignorados ou gozados e humilhados. Jovens carinhosos, meigos, doces, sensíveis, alegres, mas que não se conseguem controlar e fingir serem "normais" e mesmo que conseguissem, para estarem bem com os outros não o estariam com eles próprios!
Mas para alguns profissionais da área da saúde esta perturbação não existe, e que são contra a medicação. Afirmam que se houver um maior suporte familiar e mais regras a coisa resolve-se. Na minha opinião deviam deixar de pintar um mundo que não existe. São os pais o mundo destas crianças, é a família o seu porto seguro, e sua fonte de alegria e felicidade. Se estas crianças não tiverem um suporte familiar firme e um amor incondicional, se não forem os pais, em casa a afirmar o seu valor, e tentar elevar a sua auto-estima e tratá-los como eles merecem, a cuidar das suas feridas, o que lhes acontecerá? Depressões, tentativas de desaparecer. Depois será a sociedade e a comunidade a trabalhar com eles?
Ainda temos uma grande luta pela frente, sei que vamos ter que secar muitas lágrimas, nossas e deles. É uma luta pelo respeito, pela compreensão da PHDA, de tentar fazer com que a sociedade se aperceba que nem tudo o que fazemos é por mal, em geral foi mesmo sem querer, por impulso, por distracção. Não foi por maldade, não foi por descaso ou por não nos preocuparmos.
Mas como pais sinto que cumprimos a nossa missão, estamos a formar bons seres humanos, seres humanos que se aceitam como são, que aceitam as suas diferenças, que conseguem brincar com isso. Mas que têm respeito pelo próximo, que são honestos, sinceros e verdadeiros.
Por vezes sinto que falhamos, sei que não somos perfeitos, que temos falhas, mas dentro das nossas capacidades fizemos o melhor que podíamos e conseguimos o nosso objectivo:
Sermos felizes enquanto indivíduos e família.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Dr. Russell Barkley: PHDA Mais do que um problema de atenção




 Acredito que o maior problema que temos como grupo em convencer o público em geral sobre o défice das nossas crianças, quando comparado com autismo, esquizofrenia ou qualquer outro transtorno... É o próprio nome. É trivial. PHDA? psst, vai ao Starbucks, por Deus, tomar um café, temos coisas mais sérias para pensar em psiquiatria do que um simples "Eu não presto atenção" !!! OK?

Começa na razão de que a nossa perturbação,  e de que o nome desta perturbação seja tão criticado pela mídia, é porque o nome está errado, ok? Esta é uma perturbação do desenvolvimento da auto-regulação, não da atenção.

Referimo-nos ao PHDA como desatenção é como nos referirmos ao autismo como aplauso e falar raro. Esses são os sintomas mais evidentes de uma falha no desenvolvimento da capacidade de se relacionar com os outros como objectos especiais. Como seres humanos. E é isso que o autismo é na verdade. O resto é apenas um conjunto de sintomas superficiais.
                                              
Então, eu gostaria que a minha família compreendesse a profundidade desses défices, porque desatenção a duras penas capta o que está errado no desenvolvimento. Eu gostaria que os pais entendessem algo que a maioria das pessoas não entende: o auto-controle não é aprendido. Não é o resultado da vossa educação ou o quão bom são os vossos pais.

É uma das descobertas mais profundas de nossa pesquisa sobre a PHDA: PHDA é uma perturbação neuro-genética, mas, então aceitemos a sua implicação. Sim isso é verdade, que a PHDA é um distúrbio da auto-regulação, auto-regulação é origem neuro-genética. Esta é uma conclusão filosoficamente profunda. A variação da maioria das pessoas sentadas nesta sala, para gerir o seu comportamento não depender da forma como foram educados. É parte de quem eles são. É parte de seus dons neuro-genéticos.

E isso é realmente bastante surpreendente. Que a nossa capacidade de regular-nos a nós mesmos é uma característica neuro-biológica, não um fenómeno social aprendido, que apenas herdas-te dos teus pais

sábado, 9 de maio de 2015

Como muda o aluno ao mudar de escola





É impressionante como o mesmo aluno, um jovem com PHDA, pode mudar tanto ao mudar de escola e de método de ensino.

Na escola de curriculo normal, para jovens normais os nosso miudos são vistos como preguiçosos, são alunos mediocres e o envistimento realizado com eles é quase nulo, pois não valem a pena e dão muito trabalho.

Encontrei num texto a seguinte definição de professor: "O objetivo do professor é passar conteúdo para o aluno, “pro-fessar” um conhecimento. Um bom professor incentiva o aluno a ir atrás de novos conhecimentos, de construir novos conhecimentos. Um mau professor se preocupa unicamente com o seu próprio conhecimento e não reconhece que ideias não pertencem à ele e que outras pessoas podem – e devem – pensar diferente."
(http://pablo.deassis.net.br/2010/11/como-identificar-um-mau-professor/). E infelizmente vamos tendo muitos destes maus professores nas escolas.
Ao mudar para uma escola profissional vemos o investimento destas escolas e dos seus profissionais nos alunos que estavam irremediavelmente perdidos para o ensino normal, e assistimos esses alunos a passarem a ser bons ou mesmo excelentes alunos. Sim, muito iram dizer que é a escola do facilitismos, que as notas dos alunos são "oferecidas" gratuitamente pelos professores. Posso dizer que não é assim, há sim, um investimento de qualidade nestes alunos, tentativas de lhes captarem o interesse, que os ir biscar ao caminho onde estavam estagnados e faze-los progredir. Ok, nem todos aproveitam esse esforço, mas os muitos que aproveitam evoluem, interessam-se e tornam-se exelente profissionais.
Vi o meu filho passar de um aluno mediocre a um bom aluno, que gosta de ir à escola, que se sente valorizado e compreendido pelos professores. Um jovem com PHDA, que tinha um PEI (que não era posto em práctica), que tinha notas mediocres e que nas reuniões com o Director de Turma cabia-nos ouvir sempre a mesma cassete da desatenção, do não utilização de todas as suas capacidades.... mas que nãoo viam o jovem triste e solitário nos recreios, que não tinha companhia e que em casal de aula era normalmente ignorado.
Mas na nova escola como sempre fiz todos os anos pedi uma reunião com a Directora de Turma onde expliquei as caracteisticas do meu filho e as suas dificuldade e pedi uma reunião com todos os professores para lhes dizer o mesmo e onde os professores podessem em conversa directa connosco tirar as suas dúvidas, além de darem e receberem sujestões de como melhor lidar com ele.
Quando fomos à reunião de entrega de notas do 1ª período ficamos abismados pelas notas em si, mas principalmente pelo relatório que as acompanhava. Pela primeira vez em 10 anos de escolaridade eu tinha um relatório positivo do meu filho, em que não falavam de desatenção, mas do interesse demonstrado na aprendizagem dos conteúdos, que não demonstrava dificuldade e que era um aluno educado. Ao falar com a Directora de turma perguntei-lhe mesmo se aquelas notas eram por mérito dele ou se tinham sido esticadas e recebi comoresposta que eram mesmo dele: " Ele à beira dos colegas é um doutor", ele sabe a matéria e e voces não o tivessem sinalizado nunca nos teriamos apercebido de nenhum problema de aprendizagem.
Li em tempos uma frase que me marcou em que dizia que os maus alunos revelam os bons professores, é verdade é fácil ensinar uma turma de alunos excelentes e os professores não tem que se esforçar sequer, mas ao encontrarem algum alunos que lhes dá mais luta a maioria desiste, pois ao não conseguirem ensiná-los demonstram que tem falhas que afinal não são assim tão bons e é desistimulante.
É esta diferença no lidar com os alunos que nos dá a confiança de que fizemos a escolha certa, de que ele realmente encontrou o seu caminho para ter o seu lugar no mundo.









terça-feira, 5 de maio de 2015

Porque desisti das escolas


  
Quero neste texto tentar explicar porque desisti das escolas e do ensino regular, pois estamos cansados de sofrer e ver sofrer as nossas crianças. Mas nunca me irei cansar dos meus filhos e lutar pela felicidade deles. Não pretendo ter doutores em casa, pretendo ter sim, bons seres humanos, felizes e satisfeitos consigo próprios.
Nós, os pais de crianças com PHDA, há muito que aceitamos os nossos filhos com todas as suas características e a sua maneira de ser. Mas a sensação de incompreensão, de solidão que nos acompanha no dia-a-dia é brutal. Magoa-nos profundamente e deixa cicatrizes permanentes.
A nossa principal luta pela PHDA é com as escolas e com os seus profissionais, com a falta de preparação e a falta de vontade em compreender esta perturbação e aprender a trabalhar com os seus portadores.
Felizmente pelo longo trajeto escolar das crianças vamos encontrando excelentes profissionais que nos restauram a fé no ser humano e nas escolas, mas infelizmente são poucos, muito poucos os que assim são. A grande maioria dos profissionais da educação não quer saber destas crianças, elas dão muito trabalho, precisam de muitas adaptações e de muita boa vontade. E na maioria das vezes os profissionais nem se apercebem da enorme recompensa que poderiam ter ao assistirem o seu crescimento, o seu desenvolvimento e o reconhecimento e a gratidão que receberiam.
Já tive professores e técnicos da escola a dizer:
- “Do seu filho eu já desisti, por mim pode fazer o que quiser em sala de aula” – 1º ano
- “Vês? Como ontem não vieste conseguimos trabalhar melhor. Tu atrasas a turma” – 1º Ciclo
- “O seu filho fez-se a mim” – 3º ano quando o miúdo se sentiu injustiçado e empurrou uma cadeira
-“ Ele não usa todas as suas potencialidades, é preguiçoso” – Durante todo o percurso escolar dos 3 no ensino normal
- “Ele precisa ligar os neurónios, é distraído” – 8ª ano
Estes são apenas uns exemplos do que tive que ouvir, mas nunca ouvi frases como “vamos ajudá-lo”, “ Vou tentar fazer assim…”, tem algumas sugestões para nós?”
E quando elas chegam a casa é comovente sentir as suas mágoas, sentir como estão feridas por não serem aceites ou compreendidas. E elas apercebem-se dos olhares reprovadores, da voz sem paciência.
Com isso os colegas apercebem-se acabam por imitar o comportamento do adulto presente e em muitos dos casos a situação chegam ao bullying psicológico e/ou físico. Os técnicos que deviam zelar por estas crianças na maioria das vezes deviam o olhar e ignoram as situações. Pois são as crianças normais e “brincar” com o mal-educado, o hiperactivo.
Só que essas situações deixam marcas e magoas tão profundas que os vão acompanhar por toda a vida, que lhes vão moldar a sua auto-estima e o seu comportamento social. Como podem eles voltar a confiar em alguém? Será que os vão magoar novamente?
Termos um filho adolescente que nos diz: “Mãe eu não tenho amigos, eu sou um "forever alone”, dói! Dói ver que os nossos filhos não tem amigos, são jovens carinhosos, meigos, doces, sensíveis, alegres, mas que não se conseguem controlar e fingir serem "normais" e que devido às cicatrizes que tem acabam por se refugiarem na família, no seu porto seguro. Pois lá fora é mau, lá fora estão sozinhos ou são ignorados ou gozados e humilhados.
Não precisamos medicar os nossos filhos para que nos obedeçam, eles fazem isso sempre que se lembram, medicamo-los para se adaptarem melhor à vida em sociedade, à vida escolar. A medicação ajuda-os com Défice de Atenção e com isso melhora o seu comportamento, diminuindo a sua impulsividade. Eles aceitam a medicação para serem melhor aceites pelos seus pares, pelos professores e pela comunidade. Eles por vezes chegam a nos dizer: “É melhor hoje eu tomar o comprimido, quero causar uma boa impressão” quando vamos conhecer alguém novo. Eles notam a diferença no seu comportamento e sabem que são melhor aceites assim.
 Porém, apesar de todos os nossos esforços e o das nossas crianças, de todas as ajudas que lhe damos, vemos o nosso trabalho sistematicamente a ser destruído, no dia-a-dia escolar, na ignorância, nas críticas, nos maus tratos, nos nomes pejorativos com que são chamados, na alienação da criança em contexto escolar.
Mas vou continuar a lutar por uma mudança de consciências, é uma luta pelo respeito, pela compreensão da PHDA, de tentar fazer com que a sociedade e a escola se apercebam que nem tudo o que fazemos é por mal, ou por falta de regras, em geral foi mesmo sem querer, por impulso, por distracção. Não foi por maldade, não foi por descaso ou por não nos preocuparmos.
Se poderem parem um pouco e pensem no quanto é aborrecido para a criança PHDA ser rotulada de mal-educada por comportamentos impulsivos, que não conseguem controlar; ser esquecida ou distraída por não conseguir seguir apenas uma linha de raciocínio. Pensem que a criança que hoje tem a vossa frente é um ser humano sensível que se magoa facilmente.
Por isso, para manter a sanidade mental das minhas crianças PHDA e para manter a nossa harmonia familiar tive que desistir da escola normal e dos seus profissionais.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

PHDA: Influência sobre a relação dos pais



Formar e manter um bom relacionamento com seu parceiro é difícil, muito mais quando você tem uma criança com PHDA, equilibrar as necessidades da criança com a atenção que merece a relação é imperativo para que ambos se saíam bem.

“Qualquer pessoa que tenha uma criança com uma perturbação como a PHDA, que afecta as suas capacidade de se relacionar, de seguir regras, de aprender e ouvir, verá o seu casamento afectado”, diz psicoterapeuta Jenn Berman, de Los Angeles. “Como pais e como um casal, têm que ouvir e trabalhar em conjunto e não se devem concentrar apenas na criança, mas também um pelo outro.”

 Desde o nascimento, as crianças aprendem a partir do ambiente que os rodeia, principalmente as crianças aprendem a actuar com os seus pais. As crianças imitam ou copiam os seus pais através da observação directa diária: a maneira como falam, os gestos e a maneira como eles se relacionam com outras pessoas e enfrentam as situações.

Esta fase de aprendizagem crítica, é conhecida como modelagem ou aprendizagem por observação, como descrito por Bandura (1983) ocorre constantemente e desempenha um papel importante no comportamento das crianças. No caso de crianças com PHDA esta aprendizagem se dá de forma mais acentuada, ao agir impulsivamente e na ausência de reflexividade.

Para esta fase de aprendizagem seja o mais favorável possível, é necessário manter um bom relacionamento e um ambiente familiar estável, para promover um melhor controlo dos sintomas e evolução da PHDA.

Ao longo do tempo surgem muitos obstáculos e divergências que podem desestabilizar os casais, até mesmo levar à ruptura (um estudo revelou que os pais de crianças com PHDA têm o dobro da taxa de divórcio quando a criança tem oito anos do que os pais de crianças sem PHDA. Embora este seja um estudo único, este facto evidencia a pressão adicional que uma criança com PHDA põe a um relacionamento).

Uma das primeiras divergências enfrentadas por muitos casais ao enfrentar a PHDA do seu filho é se o seu filho tem realmente um transtorno. Para alguns casais é um obstáculo difícil de superar. O objectivo é chegar a um acordo sobre o diagnóstico e sobre o caminho a seguir no que diz respeito ao tratamento. A partir daí podem se concentrar em ajudar a criança e o outro cônjuge. Isto não significa que a PHDA separe todos os casais. Na realidade pode fazer com que alguns se aproximem ao trabalhar em conjunto para criar uma criança saudável e feliz.

Os seguintes conselhos podem fortalecer o relacionamento conjugal, enquanto ajudam a trabalhar com miúdos com PHDA:

Organizar estrutura e hábitos. Não só ajuda a criança com PHDA, mas irá também libertar tempo para se dedicarem ao casal.
Aprenda a ouvir. Quando fala um dos componentes do casal, o outro não deve estar a pensar na resposta, mas deve ouvir. Isso ajuda a superar os conflitos, seja da PHDA ou qualquer outra coisa.
Estabelecer regras claras de comum acordo. Ter uma maneira comum de educar o seu filho, tendo ou não PHDA, reduzirá o risco de disputas desnecessárias sobre os critérios educacionais. Uma comunicação eficaz entre os parceiros. Os pais de uma criança com PHDA tendem a colocar em primeiro lugar as necessidades da criança, mas também devem dedicar algum tempo as necessidades do relacionamento e aprender quais são essas necessidades.
Dividir a responsabilidade. Quando ambos os pais trabalham juntos, cuidar de uma criança com PHDA é mais fácil. A partilha de responsabilidades reduz o risco de conflito e ressentimento entre os parceiros.
É vital adaptar-se. Aprenda a viver com o diagnóstico da PHDA e a trabalhar com ele da melhor maneira para o seu filho e seu parceiro.
Dar prioridade ao tempo de casal. É recomendável reservar regularmente algum tempo para o parceiro, longe das crianças

Tradução de: http://www.fundacioncadah.org/web/articulo/tdah-influencia-en-la-relacion-de-pareja-de-los-padres.html por Anabela Gomes