terça-feira, 5 de maio de 2015

Porque desisti das escolas


  
Quero neste texto tentar explicar porque desisti das escolas e do ensino regular, pois estamos cansados de sofrer e ver sofrer as nossas crianças. Mas nunca me irei cansar dos meus filhos e lutar pela felicidade deles. Não pretendo ter doutores em casa, pretendo ter sim, bons seres humanos, felizes e satisfeitos consigo próprios.
Nós, os pais de crianças com PHDA, há muito que aceitamos os nossos filhos com todas as suas características e a sua maneira de ser. Mas a sensação de incompreensão, de solidão que nos acompanha no dia-a-dia é brutal. Magoa-nos profundamente e deixa cicatrizes permanentes.
A nossa principal luta pela PHDA é com as escolas e com os seus profissionais, com a falta de preparação e a falta de vontade em compreender esta perturbação e aprender a trabalhar com os seus portadores.
Felizmente pelo longo trajeto escolar das crianças vamos encontrando excelentes profissionais que nos restauram a fé no ser humano e nas escolas, mas infelizmente são poucos, muito poucos os que assim são. A grande maioria dos profissionais da educação não quer saber destas crianças, elas dão muito trabalho, precisam de muitas adaptações e de muita boa vontade. E na maioria das vezes os profissionais nem se apercebem da enorme recompensa que poderiam ter ao assistirem o seu crescimento, o seu desenvolvimento e o reconhecimento e a gratidão que receberiam.
Já tive professores e técnicos da escola a dizer:
- “Do seu filho eu já desisti, por mim pode fazer o que quiser em sala de aula” – 1º ano
- “Vês? Como ontem não vieste conseguimos trabalhar melhor. Tu atrasas a turma” – 1º Ciclo
- “O seu filho fez-se a mim” – 3º ano quando o miúdo se sentiu injustiçado e empurrou uma cadeira
-“ Ele não usa todas as suas potencialidades, é preguiçoso” – Durante todo o percurso escolar dos 3 no ensino normal
- “Ele precisa ligar os neurónios, é distraído” – 8ª ano
Estes são apenas uns exemplos do que tive que ouvir, mas nunca ouvi frases como “vamos ajudá-lo”, “ Vou tentar fazer assim…”, tem algumas sugestões para nós?”
E quando elas chegam a casa é comovente sentir as suas mágoas, sentir como estão feridas por não serem aceites ou compreendidas. E elas apercebem-se dos olhares reprovadores, da voz sem paciência.
Com isso os colegas apercebem-se acabam por imitar o comportamento do adulto presente e em muitos dos casos a situação chegam ao bullying psicológico e/ou físico. Os técnicos que deviam zelar por estas crianças na maioria das vezes deviam o olhar e ignoram as situações. Pois são as crianças normais e “brincar” com o mal-educado, o hiperactivo.
Só que essas situações deixam marcas e magoas tão profundas que os vão acompanhar por toda a vida, que lhes vão moldar a sua auto-estima e o seu comportamento social. Como podem eles voltar a confiar em alguém? Será que os vão magoar novamente?
Termos um filho adolescente que nos diz: “Mãe eu não tenho amigos, eu sou um "forever alone”, dói! Dói ver que os nossos filhos não tem amigos, são jovens carinhosos, meigos, doces, sensíveis, alegres, mas que não se conseguem controlar e fingir serem "normais" e que devido às cicatrizes que tem acabam por se refugiarem na família, no seu porto seguro. Pois lá fora é mau, lá fora estão sozinhos ou são ignorados ou gozados e humilhados.
Não precisamos medicar os nossos filhos para que nos obedeçam, eles fazem isso sempre que se lembram, medicamo-los para se adaptarem melhor à vida em sociedade, à vida escolar. A medicação ajuda-os com Défice de Atenção e com isso melhora o seu comportamento, diminuindo a sua impulsividade. Eles aceitam a medicação para serem melhor aceites pelos seus pares, pelos professores e pela comunidade. Eles por vezes chegam a nos dizer: “É melhor hoje eu tomar o comprimido, quero causar uma boa impressão” quando vamos conhecer alguém novo. Eles notam a diferença no seu comportamento e sabem que são melhor aceites assim.
 Porém, apesar de todos os nossos esforços e o das nossas crianças, de todas as ajudas que lhe damos, vemos o nosso trabalho sistematicamente a ser destruído, no dia-a-dia escolar, na ignorância, nas críticas, nos maus tratos, nos nomes pejorativos com que são chamados, na alienação da criança em contexto escolar.
Mas vou continuar a lutar por uma mudança de consciências, é uma luta pelo respeito, pela compreensão da PHDA, de tentar fazer com que a sociedade e a escola se apercebam que nem tudo o que fazemos é por mal, ou por falta de regras, em geral foi mesmo sem querer, por impulso, por distracção. Não foi por maldade, não foi por descaso ou por não nos preocuparmos.
Se poderem parem um pouco e pensem no quanto é aborrecido para a criança PHDA ser rotulada de mal-educada por comportamentos impulsivos, que não conseguem controlar; ser esquecida ou distraída por não conseguir seguir apenas uma linha de raciocínio. Pensem que a criança que hoje tem a vossa frente é um ser humano sensível que se magoa facilmente.
Por isso, para manter a sanidade mental das minhas crianças PHDA e para manter a nossa harmonia familiar tive que desistir da escola normal e dos seus profissionais.

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