terça-feira, 28 de julho de 2015

PHDA: A Harmonia no Caos




Existem muitos textos publicados sobre como lidar com a PHDA em família, mas em todos esses texto há grande falha, os pais com PHDA.

Como refere o texto anterior a PHDA é maioritariamente genética, ou seja numa família com uma criança PHDA teremos quase de certeza um dos pais com PHDA.

Como a discução sobre a PHDA se centra na criança, os técnicos esquecem-se de que muitas dessas crianças estão a ser educadas por pais com as mesmas dificuldades dos filhos. O que dificulta a imposição e manutenção de regras ou de rotinas.

É uma dificuldade aumentada conseguir manter a organização de uma família assim, pois os pais precisam se organizar para conseguir organizar os filhos. O levantar de manhã, conseguir que as crianças se despachem para chegar a horas à escola, preparar as roupas, as mochilas, os pequenos almoços e os lanches, quando ainda temos que nos organizar para chegarmos nós a tempo ao emprego.

Por vezes temos situações caricatas como: o facto de pormos um dos miudos de castigo e nos esqueçermos que ele estava de castigo, foi numa consulta com a pedopsiquiatra que descobrimos isso, pois o mais novo disse-lhe: "Os meus pais põe-me de castigo e depois esqueçem-se".

Uma das soluções encontradas foi a criação de quadros com as tarefas diarias de cada um, com os castigos, assim não nos esqueçemos do que temos que fazer e das consequências dos nossos actos. Eu tenho uma agenda com todos os compromisso e com alarmes.

Mesmo assim, apesar de ambos os pais sermos PHDA, conseguimos educar três cianças com PHDA, com comorbilidades diferentes. Crianças que se transformaram em adolescentes educados, que se aceitam na sua diferença.

Foi uma aprendizagem ao longo dos anos, fomos aprendendo com eles, fomos nos informando e fomos nos adaptando a cada situação. Sei que não fomos os melhores pais, sei que falhamos em muitas coisas e hoje olhando para trás teria mudado algumas coisas, teria lutado mais por outras. Mas nunca pusemos os nossos filhos em causa, nunca os culpamos pelas suas caracteristicas, pelo que era imutável neles. Nunca consideramos que nos dessem mais trabalho. Em parte porque os três são PHDA, em parte por semos nós os dois também PHDA (sem sabermos).

Teria nos dado imenso jeito ter tido alguém com quem falar, exemplos com que aprender, mas os nossos filhos fazem partes dos primeiros diagnósticos em Portugal, aliás o primeiro diagnostico deles foi realizado em Espanha e a medicação era comprada lá, pois Portugal ainda não tinha Metilfenidato à venda. Podemos dizer que fomos alguns dos que desbravamos o caminho para os PHDA de hoje.

Como nunca sentimos que a PHDA fosse culpa de alguém, nunca tivemos vergonha do diagnóstico, sempre falamos abertamente sobre ele, lutamos pelo seu reconhecimento e pelo devido respeito às nossas diferenças. Também nunca usamos a PHDA como uma desculpa (apesar de algumas pessoas assim o verem), mas como uma explicação para alguns dos nossos comportamentos e para nos concientizarmos da nossa necessidade de luta diária contra algumas das nossas caracteristicas.

Neste momento podemos dizer que somos uma família estável emocionalmente (à nossa maneira), somos um exemplo de que é possível viver em pleno com a PHDA.

Somos a HARMONIA NO CAOS!



domingo, 26 de julho de 2015

Quando os pais e os filhos são PHDA



Como se sabe a PHDA é maioritárimante de origem genética ou seja na maioria dos casos teremos pelo menos um dos pais que também será portador. Se pensarmos que a grande maioria dos PHDA estão a ser educados por PHDA não diagnosticados, veremos que a dificuldade na educação de uma criança será acrescida de algumas dificuldades.

Tem sido cada vez mais comum entrarem nos consultórios dos psiquiatras, pais com filhos diagnosticados com PHDA e que vão encaminhados pelos especialistas que acompanham os filhos. Ao realizarem o disgnóstico nos filhos deparam-se com pais que se reveem no comportamento dos filhos e que acabam por confirmar que um dos pais também é portador da PHDA.

Até há algum tempo acreditava-se que a PHDA era uma perturbação da infância que passava na adolescência. Atualmente verificou-se que tal afirmação não é verdadeira, segundo alguns estudos metade das pessoas com PHDA na infância, mantém a perturbação na vida adulta. Sabe-se hoje que quanto mais tardio for o diagnóstico e o tratamento maiores serão os sintomas e as ocorrências de comorbilidades, assim como o impacto da PHDA sobre a vida adulta.

Quando os pais começam a refletir sobre o comportamento do seu filho e de como é semelhante ao seu na mesma idade, como eram impulsivos ou hiperativos, como lhes custou a vida escolar, começam por reparar que são um desastre em casa, que precisam do apoio constante da esposa ou do marido para conseguir realizar as tarefas ou compromissos. Mas isso também acontece no trabalho, eles se despistam, demoram mais tempo para realizar as suas tarefas e muitas vezes precisam que um colega faça de secretário.

Os adultos têm acesso a mais recursos do que as crianças e tentam ao longo da vida arranjar estratégias para superar as suas dificuldades. Mas eles sabem que rendem menos do que poderiam render. O que acontece é que muitas vezes não se apercebem disso até que o filho seja diagnosticado, pois nunca ninguém lhes disse nada.

Um pai portador de PHDA com um filho também portador tende a compreender e aceitar melhor o filho e as suas características, por vezes ele desculpa-o e tenta apoia-lo. Mas alguns pais tentam que os seus filhos sejam melhores do que ele e acabam por exigir muito mais do filho.

Quanto um dos pais e o filhos tem PHDA a vida familiar é afetada. O facto do pai ser PHDA ajuda a reduzir o estigma do filho, pois ele não é o único, a criança acaba por se sentir acompanhada e compreendida apesar de se aperceber que a perturbação poderá acompanhá-lo na vida adulta, mas não é algo raro ou estranho.

O que pode acontecer na dinâmica de uma família assim é:

- Existe um aumento da desorganização. É mais difícil lembrarem-se de compromissos, de tarefas, mesmo de organizar o dia-a-dia familiar

- Maior dificuldade em controlar a execução das tarefas. Seja em priorizá-las, seja em acabá-las.

- O Pai não portador sofrerá uma carga maior de responsabilidades. Recairá sobre ele a responsabilidade de se lembrar de tudo, de priorizar e organizar toda a vida familiar.

- Será uma família com maior dificuldade em gerir o controlo emocional, será mais difícil tolerar as frustrações, o que contribui para a diminuição da confiança para enfrentar as dificuldades de cada dia.

- Dificuldade em controlar as emoções e a agressividade, principalmente na criança. O pai deverá tentar ter mais controlo.

- Haverá maior dificuldade nas relações interpessoais, a criança não se sente igual aos outros e tem baixa auto-estima. O pai por vezes fica irritadiço quando não lhe dão a razão, mas esconde melhor as suas emoções que o filho.

- Maior dificuldade na realização de planos a longo prazo. O planeamento em geral falha, devido à má preparação do plano passo a passo e na realização de prioridades.

- Terão um maior número de projetos inciados e interrompidos para iniciar um novo projeto.

- Ocorrerá um maior grau de procrastinação. O eterno deixar para o dia seguinte.

- Poderá existir uma maior tendência para atividades criativas, como pintura, teatro, dança, desporte. Neste momentos a inércia diminuirá e podem se descobrir novas capacidades.

- Há um maior risco de se tornarem dependentes das novas tecnologias: redes sociais, jogos, chat, ...

- A falta de comunicação pode gerar nas crianças o sentimento de que a PHDA não tem solução. "Se o meu pai é como eu e é mais velho, então a culpa não é minha".

- Ao realizar o tratamento adequado produz-se um sentimento de tranquilidade, pois ambos acabam por se sentirem mais calmos e focados.

Os pais que são portadores de PHDA têm a vantagem de saber como se sente o seu filho, de quão difícil pode ser ter que realizar uma tarefa simples. Mas tem a desvantagem de que por serem eles próprios PHDA sofrerem com a dificuldade que tem em gerir a educação do seu filho, dificuldades que podem ocorrer em termos de organização, planejamento, manutenção de regras, estabilidade emocional ...

Algumas dicas para melhorar a vida da família e apoiar a criança com PHDA:

- Estar sempre disponível para conversar abertamente sobre os problemas com o filho e com o cônjuge.

- Evitar o confronto quando as emoções estão intensas e descontroladas, é mais fácil conversar e chegar a um entendimento quando se fala com mais calma.

- Reconhecer as dificuldades de organização e planeamento. Utilizar post-its, quadros, calendários ou agendas para organizar o dia e os compromissos.

- Os pais devem estar em sintonia sobre a educação e regras a aplicar ao filho. Embora cada pai tenha uma maneira diferente de ser, deve existir uma sintonia no casal e um dos pais deve ser mais tolerante e o outro muito rigoroso.

- Tentar aumentar a autonomia da criança na toma de decisões e na organização. Mas ajudá-lo na organização sem que ele se sinta controlado.

- Ajudá-los na gestão do tempo de modo a evitar que cada tarefa se eternize. E não apenas com os estudos.

- Encontrar tempo para a pratica de exercício ou desporte.

- Ajudar a criança a encontrar amigos e a fortalecer as relações, para dar-lhe mais confiança.

- Estar atentos para para os momentos de desanimo, ira, desespero. Estando sempre disponíveis para ajudar e apoiar.

- Estar atentos para quaisquer sinais de que existe uma relação com a droga ou se há sinais de depressão.

- Estabelecer limites para o comportamento rebelde e irresponsável em casa. Por vezes eles tentam ser os "donos da casa" e ficam agressivos quando contrariados.

- Deve sempre procurar ajuda profissional e apoio de profissionais da educação, na escola ou faculdade.

- Estar atentos à passagem para a juventude. Eles podem se achar melhores e podem recusar o tratamento e acompanhamento. Eles querem ser como todos. Por isso, é importante observar se precisam ou não continuar com o tratamento. Tudo dependerá da sua evolução e pessoal, familiar, acadêmica, do desenvolvimento social, e como eles se sentem.

Traduzido de http://www.tdahytu.es/cuando-padre-e-hijo-tienen-tdah/

quinta-feira, 23 de julho de 2015

A dificuldade de ter uma amizade quando se é PHDA



Um dos aspectos da PHDA é a dificuldade em manter uma amizade.

Para muitos de nós é fácil iniciarmos uma nova amizade, a dificuldade está em manter a mesma. Manter uma amizade é um trabalho duro para a maioria dos portadores da PHDA, significa fazer compromissos e mantê-los o que não são os nossos pontos fortes. Se acabamos por cancelar ou, pior ainda, esquecer um café ou um cinema por completo acabamos por nos sentir culpados, frustrados e acaba por ser pior do que se não tivéssemos aceite o convite.

É um facto que os portadores de PHDA necessitam de mais tempo sozinhos, precisamos dar aos nossos cérebros ocupados um descanso, o que pode acabar por ser considerado um comportamento anti-social.

Para mim e alguns especialistas também já falam nisso, o nosso problema não é falta de atenção, mas excesso de atenção e dificuldade em geri-la. Depois de um dia estimulante no trabalho, com a tentativa de gerir as listas de tarefas e de nos lembrarmos de permanecer na tarefa e no final do dia temos que decidir se vamos ver um amigo ou ter algum tempo para nós.

Também é difícil por vezes lembrarmos-nos das convenções sociais, nós sabemos quais são e como devemos cumpri-las, mas muitas vezes deixamos para depois o telefonema de parabéns, esquecemos-nos de voltar a perguntar se já estão melhores. Não que não nos importemos, simplesmente esquecemo-nos ou quando nos lembramos já passou muito tempo, já é tarde demais.

Para nós é mais fácil ter saídas espontâneas, no momento em que nos apetece, no que a maioria das pessoas não alinha. Eu posso neste momento combinar um jantar para o fim-de-semana, mas não sei se quando chegar o momento me vai apetecer ir, ou se mesmo me apetece um jantar...pode parecer-me mais agradável ir a um cinema.

Eu sou uma pessoa faladora, divertida, muitas vezes engraçada e que consigo comunicar com todos os meus colegas de trabalho, dou-me com todos, sem ligar a classes ou profissões e considero-me amiga da maioria deles. Raramente combinamos alguma coisa ou confraternizamos fora do serviço.

Quando alguém me convida para alguma festa em geral aceito e vou de bom grado, mas chegando lá sinto-me deslocada, tenho que me comportar como alguém com 47 anos, casada e mãe de família. Tenho receio de ser mal interpretada, das minhas respostas sem pensar, retraio-me e perco a minha espontaneidade. Tenho medo do julgamento alheio.

Mas para algumas pessoas parecerá estranho que por vezes o elemento mais divertido do grupo, que tem geralmente as melhores ideias e os melhores programas, possa ser uma pessoa solitária. Pois num grupo um PHDA por vezes pode se libertar e a atenção sobre si está diluída e nesse momento não terá as pressões sociais para manter o comportamento mais correto, será um momento de libertação e divertimento. Mas no dia-a-dia terá poucas pessoas com quem interagir, com quem desabafar, falar do seu dia, das suas dúvidas e muitas vezes não tem a quem pedir ajuda.

Ser amigo de um portador de PHDA também dá trabalho, requer empatia, precisam de se concentrar nos aspectos positivos da PHDA, precisam de desculpar todos os esquecimentos, todos os atrasos e todas as faltas. Precisam de compreender o que é a PHDA.

O meu melhor amigo é o meu marido que é PHDA como eu, que me conhece e me aceita, mas principalmente me entende.

Eu gosto de sair, de me divertir, de mandar bocas, de rir, de ouvir música (de preferência alegre). Pode-se dizer que sou uma pessoa alegre e o facto de não ter grandes saídas não me incomoda, já me adaptei e aceitei.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Viver com PHDA é...



O significado da PHDA pra mim é uma LUTA constante!

Na minha vida tive que muito cedo começar a tomar decisões, a mais importante delas foi a de ter que decidir se deixava os outros se rirem de mim ou se seria eu a me rir de mim primeiro! Porque acabamos em muitas situações por fazer o papel de bobos da corte e eu optei por me rir de mim mesma, assim o impacto das risadas alheias é mais suave e por vezes as situações são mesmo caricatas.

A vida de um PHDA não é fácil, é uma vida sem glamour, sem facilidades e sem atalhos. Pois os nossos caminhos são sempre mais longos, mais difíceis, mais sinuosos e com muitas armadilhas e desvios. Por isso devemos tentar estar em alerta constante, uma luta permanente contra a falta de foco, a impulsividade.

Mas também é por vezes um caminho com beleza, devido às nossas distrações encontramos borboletas e esquilos nas árvores. Perdemo-nos, perdemos a direção ou ficamos simplesmente deslumbrados com a luz do sol e as cores das flores.

Acabo muitas vezes por me desviar dos meus propósitos ou por procrastinar as situações e tarefas, eu não consigo controlar isso. Depois do meu diagnóstico e do inicio da toma da medicação as coisas melhoraram bastante, mas por vezes dou por mim a tentar adiar ou a trocar a tarefa por outra mais agradável. Temos sempre que fazer o dobro do esforço para atingir os nossos objetivos. Isto é ser PHDA

Algumas vezes sou acelerada e por vezes sem necessidade, pois esgoto as minhas energias e esgoto os que me rodeiam. As coisas tem que ser feitas já! Rápido. Isto é ser PHDA!

Mas algumas vezes tem que ser assim, se eu abrandar acabo por procrastinar e o dia termina sem eu ter realizado o que deveria. E a frustração que sinto acaba por ser pior que o cansaço.

Não é uma vida fácil, mas para mim é bonita e não sei ser e não quero ser de outra maneira.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Empatia




O que é Empatia:
Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo.

O que é Simpatia:
É a capacidade que as pessoas têm de participar das emoções alheias, podendo variar entre a mera aceitação e compreensão dos sentimentos do próximo e a completa identificação dos próprios estados emotivos com o do outro.

Um dos sentimento que mais sinto falta na sociedade atual é da empatia, todos são simpáticos quanto baste, emitem parabéns, condolências. São capazes de se sensibilizar com uma situação, rir, festejar ou chorar, mas não são capazes de se colocar no lugar do outro. 

Sabem que o outro sofre e até emitem opiniões sobre a melhor forma de lidar com a situação, emitem julgamentos, rotulam sem jamais se por no seu lugar e tentar perceber o que realmente se passa.

Um filho com PHDA dá muito trabalho, pões os cabelos em pé, enerva, esgota. Os pais por vezes esquecem-se de se colocar no lugar deles. O quanto eles sofrem cada vez que erram, cada vez que falham, cada vez que não conseguem fazer melhor. Grande parte da baixa da autoestima de um portador de PHDA começa em casa e aumenta na escola, na sociedade como um todo.

Como podemos por vezes pedir a um professor ou a um coleguinha que entenda o nosso filho se muitas das vezes, nós os pais, não conseguimos. Nos esquecemos da empatia facilmente. Não é fácil para nós, mas também não é fácil para a criança, tudo o que ela precisa é de ser compreendida e aceite. A empatia tem que começar em casa, na família, para depois a podermos pedir aos outros.


 

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Se amas alguém com PHDA



As pessoas portadores de PHDA sofrem, a vida é mais difícil para elas. Para elas tudo é mais intenso e ampliado, com a sua mente a trabalhar constantemente, sempre a criar, a pensar, sem nunca parar.

Mas a PHDA pode complicar um relacionamento e pode ser de opostos. As pessoas com PHDA não conseguem gerir a sua atenção, pois todos os estímulos são interessantes, mas se eles estiverem em hiper-foco ficam abstraídos de todo o resto. Iniciar um projeto é um desafio, mas abandoná-lo pode ser um desafio ainda maior.

O verdadeiro amor é incondicional, mas a PHDA pode apresentar situações que testam todos os limites de seu amor. Se o seu filho, namorado, marido ou noivo são PHDA eles vão por esse relacionamento à prova. A melhor maneira conseguir paz na vida de ambos é aprender uma nova maneira de pensar para lidar com a montanha-russa emocional que a PHDA pode trazer todos os dias à vossa vida.

Entender o que sente um portador de PHDA poderá ajudá-lo a ser mais paciente, tolerante, compassivo e amoroso com essa pessoa. Seu relacionamento será mais agradável e pacífico.

Isto é o que acontece na mente de uma pessoa com PHDA:

  1. Têm uma mente ativa

    Um cérebro PHDA não para. Não existe nenhum interruptor, não há pausas. Este é um fardo com que tem de aprender a lidar.
  2. Eles ouvem, mas não assimilam o que foi dito

    Uma pessoa com PHDA olha para si e ouve as suas palavras, ela vê os seus lábios a mexer, mas após as primeiras cinco palavras a sua mente inicia uma viagem, seus pensamentos estão no espaço sideral. Ela pode estar a pensar em inúmeras coisas.
  3. Têm dificuldade em permanecer numa determinada tarefa

    Em vez de manter o foco no que está a sua frente, um PHDA pode se perder a olhar para a cor da tinta na parede ou na sua própria mente. Como se percorressem um labirinto, eles podem começar a ir numa direção, as mudam de rumo e se perdem antes de encontrar uma saída.
  4. Sofrem frequentemente de ansiedade

    Como são frequentemente pensadores profundos, as pessoas com PHDA são sensíveis ao que acontece ao seu redor. Estar em um restaurante barulhento pode se equiparar a estar na primeira fila de um show do Metallica. A menção de uma notícia deprimente pode colocá-los com uma disposição de fim-do-mundo.
  5. Não conseguem gerir a sua atenção quando estão animados / excitados.

    Quando alguma coisa os preocupa ou chateia uma pessoa com PHDA não consegue pensar em outra coisa. Isso faz com que a sua concentração no trabalho, numa conversa ou em situações sociais seja quase impossível.
  6. Eles podem se concentrar muito intensamente

    Quando a sua mente está aberta, a pessoa com PHDA pode mergulhar em um oceano profundo, principalmente se for um assunto de seu interesse.
  7. Eles tem dificuldade em interromper uma tarefa quando estão abstraídos

    Podem ficar por horas no fundo do oceano. Mesmo quando está com pouco oxigénio, se estiver a apreciar a vista não vai emergir até que oxigénio se esgote.
  8. Não são capazes de gerir emoções

    Para uma pessoa com PHDA as emoções vão ao acaso, desproporcionadamente não as conseguem conter. O emaranhado de fios de seu cérebro brilhante dificulta-os a processar os pensamentos e os sentimentos. Eles necessitam de mais tempo para processa-los correctamente.
  9. Por vezes tem explosões verbais

    Como as suas emoções são intensas acabam por ser difíceis de regular. Como costumam falar sem pensar, acabam por muitas vezes dizer coisas de que se arrependem mais tarde. É-lhes quase impossível controlar as suas palavras antes de as libertar.
  10. Eles sofrem de ansiedade social

    O facto de saberem que são diferentes fá-los sentir desconfortáveis, para as pessoas com PHDA as situações sociais tendem a ser desconfortáveis, eles ficam com medo de dizer algo estúpido ou de reagir de forma inadequada. Para eles o silêncio é mais seguro.
  11. Eles são profundamente intuitivos

    Para as pessoas com PHDA a superfície externa é por vezes invisível e fácil de atravessar, eles podem ver além. Este é o aspecto mais agradável de um PHDA. Este rasgo de inspiração é o que os torna génios criativos. Os inventores, artistas, músicos e escritores prosperam nesta área.
  12. Eles pensam de forma original

    Este é outro aspecto positivo dos portadores de PHDA, é que porque as suas mentes pensam de forma diferente acabam por encontrar soluções abstractas para os problemas que um pensador vulgar não consegue ver.
  13. Eles são impacientes e inquietos

    Eles se irritam com facilidade, querem que as coisas aconteçam imediatamente. Estão constantemente a brincar com o telefone, com o cabelo ou a sacudir a perna para cima e para baixo; uma pessoa com PHDA necessita de movimento constante. Para ela isso é uma actividade relaxante, zen.
  14. São fisicamente sensíveis

    A caneta pesa-lhes na mão. Picam-lhes as fibras de um tecido que a maioria não percebe. A cama está cheia de buracos. A comida tem texturas que não podemos imaginar. Como a princesa de conto eles podem sentir uma ervilha sob vinte colchões.
  15. Eles são desorganizados

    O seu método favorito de organização são as pilhas. Após a conclusão de uma tarefa, os trabalhos relacionados com ele são colocados numa pilha, onde permanecem até que seja demasiado elevada. Em seguida, a pessoa com PHDA se sente oprimido e frustrado e remove-a. Pessoas com PHDA têm de ter cuidado para não acumular lixo. É difícil manter as coisas em ordem, porque seu cérebro não funciona de forma ordenada.
  16. Eles precisam de espaço para caminhar

    Ao falar ao telefone ou ao ter uma conversa, as pessoas com PHDA pensam melhor quando se movimentam. O movimento acalma-os e clarifica as suas ideias.
  17. Evitam tarefas

    Tomar decisões ou completar tarefas a tempo é uma luta. Não porque eles sejam preguiçosos ou irresponsáveis, mas porque suas mentes estão cheias de opções e possibilidades. Escolher uma opção pode ser complicado. É mais fácil evitar tomar decisões, porque eles pensam demasiado.
  18. Não conseguem se lembrar de tarefas simples

    Outra característica paradoxal da PHDA é a memória. As pessoas com PHDA não se lembram de pegar a limpeza a seco, de comprar o leite no supermercado ou de um compromisso. Mas são capazes de se lembrar de cada número, de cada comentário ou telefone que ouviu durante o dia. Não importa quantos Post-it, lembretes tenha preparado, a sua mente estará sempre vagando em outro lugar. As coisas à vista são mais fáceis de lembrar, então eles têm quinze janelas abertas no seu computador.
  19. Eles fazem muitas coisas ao mesmo tempo

    Devido à actividade constante da mente,enquanto estão a realizar uma tarefa já estão prontos para começar outra, sem ter acabado a anterior. Quanto mais coisas ao mesmo tempo, melhor. Multitarefas é uma de suas actividades favoritas, o que não significa que façam todas bem.
  20. Eles são apaixonados pelo que fazem

    As emoções, pensamentos, palavras e o tacto de uma pessoa com PHDA são poderosos. Tudo é ampliado. Esta é uma bênção quando canalizada correctamente. Quando uma pessoa com PHDA faz algo, faz com todo o seu coração, dão tudo o que tem. Eles são pessoas intensas, perceptivas e profundas. Esta qualidade é o que faz uma pessoa com PHDA amável.


    Basicamente, uma pessoa com PHDA têm problemas em controlar seus impulsos. Mas eles também tem muitas qualidades fantásticas das quais poderá desfrutar depois de você entender como ele pensa e sente. Com compaixão, empatia e paciência poderá superar os momentos mais difíceis. É importante ter um cuidado especial consigo, tenha um horário regular sozinho para fazer o que quiser, procure um grupo de apoio, um terapeuta ou um amigo sábio e entendido, tenha férias frequentes, medite, procure encontrar um hobby que a apaixone. Acima de tudo tem que aprender a respirar.

    Alguns dos maiores inventores, artistas, músicos, empresários e escritores tinham PHDA. Eles triunfaram porque tinham um ente querido a apoiá-los em suas dificuldades diárias. Troque a sua ira por compaixão. Perceba que ele se esforça para tornar as coisas mais fáceis para si. É como se o cérebro PHDA tivesse circuitos trocados. Da próxima vez em que pensar que é preguiçoso, irresponsável, desorganizado e evita responsabilidades, tente se lembrar do quanto custa para eles executar uma tarefa simples.

    Sim, é difícil amar uma pessoa com PHDA, mas quando entender a carga que eles suportam o seu coração se abrirá. O amor e a compaixão irão substituir a raiva e você verá dentro da sua alma como ele é doce e bom.

sábado, 18 de julho de 2015

Carta aos meus amores



Olá, meus amores. Eu tenho a certeza que vocês sabem o quanto vos amo e que estou sempre ao vosso lado.

Apesar de vocês acharem que os pais são invencíveis, que são os mais fortes e podem com tudo, também somos seres humanos, eu choro, riu, penso, falo e falho...

Devo-vos um pedido de desculpa por não ter conseguido ser melhor mãe, mas garanto-vos que fui a melhor mãe que consegui. Tentei fazer tudo o melhor por vocês, apesar de achar que deveria ter lutado muito mais e vos defendido muito mais, Mas eu não me apercebia na altura da gravidade das situações ou mesmo da totalidade do vosso sofrimento.

Eu sei como é difícil começar uma nova amizade ou mesmo manter uma amizade a longo prazo. Sei o quanto dói não serem convidados para aquela festa, ser o elemento estranho na turma. Sempre tentei vos compensar por esse sofrimento, sempre tentei estar presente, estar lá e vos empurrar para a frente e a vos mostrar o vosso valor e que só perde quem não vos conhece, quem não vê os seres humanos maravilhosos que vocês são.

Tanto eu como o vosso pai sempre vos aceitamos como os nossos maravilhosos filhos, vocês nunca deram trabalho, nunca foram um estorvo. Sim, vocês eram inquietos, inquisidores, impulsivos e tínhamos que vos ter debaixo de olho para a vossa segurança, mas encaramos isso como parte do nosso papel de pais. Não preciso de descanso de vocês, basta-me ver o vosso sorriso e vossa felicidade e todo o cansaço se desvanece.

Ok, vocês tem as vossas características devido à PHDA e às suas comorbilidades, mas não considero que haja algo de errado com convosco. Nós podemos ser diferentes e fazer algumas coisas de maneira diferente, mas somos seres humanos.

O facto de terem sido diagnosticados ajudou-nos a perceber o motivo de algumas coisas, de algumas características, fomos aprendendo juntos a lidar com a PHDA, mas lembrem-se de que não é o diagnóstico da PHDA faz parte de vocês, mas não vos define, não é o que vocês são. Vocês são muito mais!

Sei a incompreensão que vocês sofreram e ainda sofrem, os colegas não vos entendem, nem tentam entender. Para alguns professores vocês eram quase invisíveis, mas ainda bem que são educados e não incomodavam muito na sala de aula, mas eles não se interessaram o suficiente para vos ajudar a melhorar o vosso desempenho, pois vocês eram apenas preguiçosos e distraídos e nunca viram ou reconheceram o vosso esforço diário para fazer melhor. Para a sociedade em geral vocês são estranhos, diferentes e isso confunde-os.

Durante alguns anos fui exigente, obriguei-vos a estudar mais, para terem os mesmos resultados que os vossos colegas, para poder ouvir um professor fazer um elogio, para que os demais pudessem ver o que eu via, com isso acabei por sacrificar a nossa vida familiar. Ao longo dos anos fui me apercebendo que o vosso esforço não era sequer reconhecido e desisti, não de vocês, mas de vos obrigar a um esforço sem reconhecimento e passei a valorizar a nossa qualidade de vida como família, a nossa estabilidade emocional. Espero fervorosamente ter feito a escolha certa. Não preciso de filhos doutores nem de uma folha com 5 para me mostrar os bons filhos e seres humanos que vocês são. Vocês são simpáticos, educados, alegres, carinhosos e nobres…

Vocês são o meu orgulho!

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Afirmar que a PHDA não existe é uma irresponsabilidade




Eu acredito na PHDA! Não apenas por que um médico diagnosticou os meus filhos, mas por tudo o que foi estudando e descobrindo sobre a PHDA ao longo dos anos.

Afirmar que a PHDA não existe é irresponsável e imprudente.

Alguns setores da sociedade pensam que é uma “doença da moda” por ignorância sobre a própria perturbação e das suas características, das terríveis consequências pela falta de tratamento adequado e precoce. A principal consequência que esta dúvida cria é uma maior instabilidade aos seus portadores e às suas famílias, além de uma dúvida cruel sobre os novos diagnósticos e se os pais devem ou não aceitar medicar as crianças o que pode provocar um atraso no diagnóstico precoce e no tratamento atempado, ou mesmo privá-las de um tratamento que não deve ser exclusivamente farmacológico para uma melhoria na qualidade de vida dos seus portadores.

Estamos na época da facilidade e rapidez da informação através da Internet, em que qualquer um pode criar conteúdos (mais ou menos fidedignos) e expor as suas opiniões sem que estas tenham que estar baseadas ou mesmo fundamentadas em algo, ou pudesse mesmo alterar conteúdos deturpar palavras (como a famosa entrevista do criador da PHDA) e essas opiniões podem se tornar virais, sem se pensar nas consequências que poderão ter e/ou quem poderão prejudicar. Mas muitas vezes essa aparente vantagem da internet, está longe de ser uma fonte de informação adequada que possa ajudar na compreensão da PHDA e alertar para as consequências de uma falta de tratamento.

Declarações de como a PHDA é nova doença, fictícia, invenção do século, invenção da indústria farmacêutica ou as supostas declarações do Dr. Leon Eisenberg, ecoam na internet sem um pingo de provas ou dados verificáveis. Na mídia não existem filtros para garantir a precisão das informações e ninguém deveria publicar e divulgar notícias sem fundamento. Mas, graças a este meio também podemos encontrar fontes fidedignas em que esclarecem sobre a evolução do estudo e diagnósticos desta perturbação ao longo dos tempos e das novas descobertas.

Como diz o Dr. Nuno Lobo Antunes no seu texto da semana passada à LUX:
Detesto lugares comuns, outlets do pensamento, onde se compram a pronto, e com desconto, imitações da inteligência. Diz-se que devemos respeitar a opinião dos outros: mentira! Há imensas opiniões que não respeito, pois não têm qualquer valor. Ter opinião dá imenso trabalho, quem não teve esse trabalho que se cale.

A PHDA pode ser um tema que gera controvérsia e que as opiniões podem permanecer divididas, onde o principal argumento é de que há uma falta de evidência científica sobre "diagnóstico" (e não sobre a sua "existência") e há uma falta de critérios unificados ou mesmo ferramentas confiáveis para normatizar um diagnóstico mais preciso.

Posso aceitar que se tenha uma opinião favorável ou contra a medicação, que cada um possa decidir se a querem tomar ou dar aos seus filhos, mas não que tenham dúvidas sobre a sua eficácia ou mesmo sobre a segurança na toma da medicação. Aceito que o facto de a medicação apenas ter uma vida útil limitada e servir apenas como apoio e não como um método de cura nesse dilema.

Na minha família fazemos uso consciente e orientado, por especialistas, da medicação. Não precisamos da medicação diariamente, aprendemos a nos aceitar e a gostar de nós como somos, mas temos consciência de que a medicação nos ajuda na nossa performasse profissional, na nossa concentração, para a realização de tarefas.

Não posso negar ou afirmar que existam diagnósticos errados de PHDA, apenas posso dar a minha opinião de que que sim, mas também acho que existem muitos PHDA ainda sem diagnóstico e sem tratamento. Também a haverá casos de crianças medicadas sem necessidade e de quem ouvimos falar sobre como a medicação não funciona ou cria “crianças Zombie” e cada vez que um caso desses é divulgado a credibilidade na PHDA e no seu tratamento diminui e as dúvidas surgem em muitos pais inseguros.

A prevalência da PHDA não é crescente, continua entre os 3 e 7% . O que pode ter mudado em Portugal foi o aumento nos diagnósticos, mas não porque há um interesse da indústria farmacêutica, mas porque existem milhares de famílias que estão lutando incansavelmente contra a PHDA e as suas consequências. Também existe uma maior divulgação, mais conhecimentos sobre a perturbação, sobre o seu diagnóstico e, consequentemente, haverá um aumento dos agentes envolvidos no tratamento, incluindo a medicação.

Por isso negar a existência do PHDA é privar as pessoas afetadas e às suas famílias um bom tratamento e isso é irresponsável e imprudente.