sábado, 18 de julho de 2015

Carta aos meus amores



Olá, meus amores. Eu tenho a certeza que vocês sabem o quanto vos amo e que estou sempre ao vosso lado.

Apesar de vocês acharem que os pais são invencíveis, que são os mais fortes e podem com tudo, também somos seres humanos, eu choro, riu, penso, falo e falho...

Devo-vos um pedido de desculpa por não ter conseguido ser melhor mãe, mas garanto-vos que fui a melhor mãe que consegui. Tentei fazer tudo o melhor por vocês, apesar de achar que deveria ter lutado muito mais e vos defendido muito mais, Mas eu não me apercebia na altura da gravidade das situações ou mesmo da totalidade do vosso sofrimento.

Eu sei como é difícil começar uma nova amizade ou mesmo manter uma amizade a longo prazo. Sei o quanto dói não serem convidados para aquela festa, ser o elemento estranho na turma. Sempre tentei vos compensar por esse sofrimento, sempre tentei estar presente, estar lá e vos empurrar para a frente e a vos mostrar o vosso valor e que só perde quem não vos conhece, quem não vê os seres humanos maravilhosos que vocês são.

Tanto eu como o vosso pai sempre vos aceitamos como os nossos maravilhosos filhos, vocês nunca deram trabalho, nunca foram um estorvo. Sim, vocês eram inquietos, inquisidores, impulsivos e tínhamos que vos ter debaixo de olho para a vossa segurança, mas encaramos isso como parte do nosso papel de pais. Não preciso de descanso de vocês, basta-me ver o vosso sorriso e vossa felicidade e todo o cansaço se desvanece.

Ok, vocês tem as vossas características devido à PHDA e às suas comorbilidades, mas não considero que haja algo de errado com convosco. Nós podemos ser diferentes e fazer algumas coisas de maneira diferente, mas somos seres humanos.

O facto de terem sido diagnosticados ajudou-nos a perceber o motivo de algumas coisas, de algumas características, fomos aprendendo juntos a lidar com a PHDA, mas lembrem-se de que não é o diagnóstico da PHDA faz parte de vocês, mas não vos define, não é o que vocês são. Vocês são muito mais!

Sei a incompreensão que vocês sofreram e ainda sofrem, os colegas não vos entendem, nem tentam entender. Para alguns professores vocês eram quase invisíveis, mas ainda bem que são educados e não incomodavam muito na sala de aula, mas eles não se interessaram o suficiente para vos ajudar a melhorar o vosso desempenho, pois vocês eram apenas preguiçosos e distraídos e nunca viram ou reconheceram o vosso esforço diário para fazer melhor. Para a sociedade em geral vocês são estranhos, diferentes e isso confunde-os.

Durante alguns anos fui exigente, obriguei-vos a estudar mais, para terem os mesmos resultados que os vossos colegas, para poder ouvir um professor fazer um elogio, para que os demais pudessem ver o que eu via, com isso acabei por sacrificar a nossa vida familiar. Ao longo dos anos fui me apercebendo que o vosso esforço não era sequer reconhecido e desisti, não de vocês, mas de vos obrigar a um esforço sem reconhecimento e passei a valorizar a nossa qualidade de vida como família, a nossa estabilidade emocional. Espero fervorosamente ter feito a escolha certa. Não preciso de filhos doutores nem de uma folha com 5 para me mostrar os bons filhos e seres humanos que vocês são. Vocês são simpáticos, educados, alegres, carinhosos e nobres…

Vocês são o meu orgulho!

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