quinta-feira, 23 de julho de 2015

A dificuldade de ter uma amizade quando se é PHDA



Um dos aspectos da PHDA é a dificuldade em manter uma amizade.

Para muitos de nós é fácil iniciarmos uma nova amizade, a dificuldade está em manter a mesma. Manter uma amizade é um trabalho duro para a maioria dos portadores da PHDA, significa fazer compromissos e mantê-los o que não são os nossos pontos fortes. Se acabamos por cancelar ou, pior ainda, esquecer um café ou um cinema por completo acabamos por nos sentir culpados, frustrados e acaba por ser pior do que se não tivéssemos aceite o convite.

É um facto que os portadores de PHDA necessitam de mais tempo sozinhos, precisamos dar aos nossos cérebros ocupados um descanso, o que pode acabar por ser considerado um comportamento anti-social.

Para mim e alguns especialistas também já falam nisso, o nosso problema não é falta de atenção, mas excesso de atenção e dificuldade em geri-la. Depois de um dia estimulante no trabalho, com a tentativa de gerir as listas de tarefas e de nos lembrarmos de permanecer na tarefa e no final do dia temos que decidir se vamos ver um amigo ou ter algum tempo para nós.

Também é difícil por vezes lembrarmos-nos das convenções sociais, nós sabemos quais são e como devemos cumpri-las, mas muitas vezes deixamos para depois o telefonema de parabéns, esquecemos-nos de voltar a perguntar se já estão melhores. Não que não nos importemos, simplesmente esquecemo-nos ou quando nos lembramos já passou muito tempo, já é tarde demais.

Para nós é mais fácil ter saídas espontâneas, no momento em que nos apetece, no que a maioria das pessoas não alinha. Eu posso neste momento combinar um jantar para o fim-de-semana, mas não sei se quando chegar o momento me vai apetecer ir, ou se mesmo me apetece um jantar...pode parecer-me mais agradável ir a um cinema.

Eu sou uma pessoa faladora, divertida, muitas vezes engraçada e que consigo comunicar com todos os meus colegas de trabalho, dou-me com todos, sem ligar a classes ou profissões e considero-me amiga da maioria deles. Raramente combinamos alguma coisa ou confraternizamos fora do serviço.

Quando alguém me convida para alguma festa em geral aceito e vou de bom grado, mas chegando lá sinto-me deslocada, tenho que me comportar como alguém com 47 anos, casada e mãe de família. Tenho receio de ser mal interpretada, das minhas respostas sem pensar, retraio-me e perco a minha espontaneidade. Tenho medo do julgamento alheio.

Mas para algumas pessoas parecerá estranho que por vezes o elemento mais divertido do grupo, que tem geralmente as melhores ideias e os melhores programas, possa ser uma pessoa solitária. Pois num grupo um PHDA por vezes pode se libertar e a atenção sobre si está diluída e nesse momento não terá as pressões sociais para manter o comportamento mais correto, será um momento de libertação e divertimento. Mas no dia-a-dia terá poucas pessoas com quem interagir, com quem desabafar, falar do seu dia, das suas dúvidas e muitas vezes não tem a quem pedir ajuda.

Ser amigo de um portador de PHDA também dá trabalho, requer empatia, precisam de se concentrar nos aspectos positivos da PHDA, precisam de desculpar todos os esquecimentos, todos os atrasos e todas as faltas. Precisam de compreender o que é a PHDA.

O meu melhor amigo é o meu marido que é PHDA como eu, que me conhece e me aceita, mas principalmente me entende.

Eu gosto de sair, de me divertir, de mandar bocas, de rir, de ouvir música (de preferência alegre). Pode-se dizer que sou uma pessoa alegre e o facto de não ter grandes saídas não me incomoda, já me adaptei e aceitei.

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