quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Escola: Para quando uma real mudança?




Estou apaixonada por este vídeo! As pessoas não percebem que mudar não é facilitar, mudar é adaptar, ajustar.

Os meus filhos mudaram de escola e a adaptação deles foi maravilhosa. não é uma escola mais fácil, mas sim uma escola que visa a aprendizagem do aluno, que lhes estimula a curiosidade. Uma escola para onde eles gostam de ir e onde sabem que vão apreender coisas novas e interessantes.

 A escola deve ser um sitio para onde os alunos deveriam ir com prazer, com alegria, jamais deveria ser vista pelos alunos como um local de castigo, de "seca" ou um sitio para os "prender" durante 8 ou mais horas por dia, enquanto os pais estão a trabalhar.

Já repararam na faixada de uma escola? Elas são de cimento, com grades (como uma cadeia), não há praticamente nenhuma área verde ou espaços lúdicos. Que ideia isso dá a quem lá é obrigado a passar 8 horas a ouvir um adulto a debitar a matéria?

Mesmo com o currículo atual é possível os professores adaptarem-se e tornarem a matéria e as aulas mais interessante.  Já vi alguns (poucos) professores fazerem isso, dá imenso trabalho, mas só na 1º vez, depois é só manter. Adaptar o tipo de aula ao tipo de matéria. Como falar de natureza num espaço de cimento, como falar de animais num espaço estéril?

As novas tecnologia!! Ahhhh as novas tecnologias, que bicho papão... distai os alunos, não os deixa ficarem atentos à matéria. Mas elas já deveriam fazer parte integrante das aulas e da aprendizagem, ao invés de serem consideradas distrativas. Que tal usarem os telemóveis e os tablet's ou os quadros interativos para assistirem vídeos sobre a matéria, que tal ensinar os alunos a usarem a Khan Academy e outros similares? Que tal usarem jogos, sim jogos, como o Minecraft  e daí tirar uma lição?

É preciso adaptar a escola ao século em que vivemos e ajudar os alunos a aprender a usarem com segurança as várias fontes de informação disponíveis!


Letras Caídas - Falling Letters (Bokstavsbarn)




Algum de vocês consegue perceber/imaginar o que é viver assim? E quando se chega a casa temos uns pais cansados e frustrados porque não conseguimos ser como eles gostariam/sonham que fossemos!

Como mãe sei bem as pressões sociais que sofrermos e as comparações dos nossos filhos com os dos outros. O que podemos fazer???? Ajustar as nossas expectativas em relação aos nossos filhos e às suas capacidades. Tentar perceber quais são as reais capacidades deles, uma que garanto que não é é ser iguais aos outros.

Nós somos diferentes, porque pensamos e processamos a informação de maneira diferente, não errada, apenas diferente. Nós somos capazes de aprender se quem está connosco for capaz de nos ensinar.

É possível, é fazível, mas requer mudanças. mudanças na aceitação, na expectativa, na maneira de nos verem.... não somos nós quem tem que mudar... acreditem já tentamos muito e não conseguimos! Por isso a solução passa pela maneira de como os outros nos olham, nos respeitam e se adaptam a nós.

Neste vídeo, se o virem com outros "olhos", vão perceber que o miúdo tem muitas capacidades não aproveitadas pela escola tradicional. Ele desenha, imagina histórias, ele repara nas flores e faz algo com elas, não se limita a pasmar na fila do autocarro. Sim ele perde o transporte, essa é uma das partes negativas da PHDA, essa é a maior luta para alguém PHDA, a luta contra a distração e contra o relógio e esse é um dos pontos em que precisamos de ajuda.

Não estou a dizer que devemos deixar o coitadinho do PHDA, não! Quero dizer apenas que entendam e tentem reforçar os nosso pontos mais fracos, que nos ajudem a aprender a lidar com isso.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

PHDA Adulto: O diagnóstico que mudou minha vida




 Por  Lisa Walton 
A alcunha do meu pai para mim em criança era "The Whirlwind". Eu estava sempre em movimento. Eu era magra, com os joelhos ossudos e não conseguia concluir nada do que eu começava ou eu estava tão focada em qualquer jogo que estava a jogar que tudo o resto desaparecia no fundo.
Já no inicio do meu primeiro ano na escola, meus professores se aproximaram dos meus pais e disseram-lhes que eu poderia ter défice de atenção e hiperatividade ou PHDA e sugeriram que eles considerassem me medicar com Ritalina, a droga que trata essa condição em crianças.
Meus pais estavam relutantes em me medicar com qualquer tipo de droga e me levaram a um psicólogo comportamental infantil ao invez disso. Lembro-me dele a me dar jogos divertidos para jogar, de que eu realmente gostei e a sua avaliação para os meus pais era de que eu era apenas uma garota brilhante, com muita energia e não havia nada de errado comigo.
Meus professores, por outro lado, diziam que eu era perturbadora nas aulas e que não conseguia ficar parada, estava constantemente a interromper - e minhas notas não eram boas. Como eu tinha apenas seis anos de idade, eu estava alheia a essas conversas e meus pais não discutiram o assunto comigo. Eu continuei a ser conhecida como a hiperativa e perturbadora da escola.
Eu fui provocada e intimidada impiedosamente porque a minha reação era explosiva, portanto, divertida. Como resultado, eu fui para sete escolas diferentes, mas era sempre o mesmo: eu era excelente nos assuntos que amava e causava problemas nas aulas que odiava.
Agora eu sei que as pessoas com PHDA ou são facilmente distraídos ou hiper-focados, dependendo do que eles gostam de fazer. Eu também tive dificuldades socialmente. As pessoas muitas vezes gostava de mim no começo, mas depois me achavam um pouco estranha. Eu deixava escapar coisas que os outros pareciam pensar eram inadequados, apesar de eu não sentir que fosse inadequado para mim.
E eu interrompia muito, porque a minha mente move-se mais rápido do que a das outras pessoas. Às vezes, quando as pessoas começavam a se aperceber de que eu não era convencional, mas errática, eles recuavam e eu passava a ser condenada ao ostracismo, o que foi incrivelmente doloroso. Como adulta no mundo do trabalho, eu fui demitida de cada trabalho que eu tentei - e eu tentei todos os tipos: recepcionista, entrada de dados, gerenciamento de projetos, escritório de administração, PA.

Havia trabalhos intermináveis ​​rotina rígida que não combina comigo, então eu não podia aplicar-me a um nível satisfatório. Fiquei muitas vezes rebelde e ressentia-me por ser acorrentada a horas específicas e expectativas de comportamento do local de trabalho. Eu simplesmente não conseguia ficar parada por longos períodos e muitas vezes terminava o meu dia de trabalho em um par de horas e ficava sem nada para fazer.

Eventualmente eu deixei a força de trabalho por completo e explorei várias opções, como dançar. Mas, aos poucos percebi que seria melhor adequar-me a trabalhar para mim a partir de casa. Eu comecei a fazer algum dinheiro como blogging freelance e criação de conteúdo e tive sorte que minha mãe podia me ajudar financeiramente. Eu sou apenas uma criança e a minha mãe sempre foi muito próxima e ela era sempre simpática.

Depois de estudar para ser uma treinadora nutrição integrativa por um ano, tinha grandes planos para a criação da minha própria prática e via na gestão de uma empresa, como a minha, a chance de finalmente ser um sucesso em alguma coisa. No entanto, eu simplesmente não conseguia me concentrar o suficiente para priorizar e fazer as coisas necessárias para configurar tudo, para executar um negócio bem sucedido. Até então eu estava com 30 anos, com anos de luta atrás de mim, então eu me tornei uma pessoa com baixa auto-estima, assumindo que os meus problemas eram minha culpa.

Eu sempre soube que eu sou inteligente e capaz, mas porque eu não conseguia fazer nada e produzir resultados? Quando olhei para trás, as coisas na minha vida que não tinha trabalhado para fora, comecei a pensar que havia algo seriamente errado comigo. Consistentemente a tentar e a fracassar ao fazer as coisas que eu queria fazer era tão desmoralizante que, eventualmente, eu isolei-me do mundo.


Eu não queria estar perto dos meus amigos porque eu me sentia envergonhada e humilhada sobre as minhas falhas. Esses sentimentos logo levaram a uma depressão profunda - algo que eu tinha experimentado antes - mas desta vez foi mais sério e realmente debilitante.

Eu tornei-me uma reclusa e queria morrer ao invez de viver com este problema, sem explicação. Mas havia um lado positivo para a depressão: ela finalmente me levou ao meu diagnóstico com a idade de 36 anos. Depois de alguns meses, eu fui ver meu GP e ele me encaminhou para um assessor que falou dos meus sintomas e sugeriu que eu podia ter PHDA adulta (embora, como eu, a maioria dos adultos tendem a não ter parte hiperatividade da condição).

Lembrei-me de que a minha mãe me disse uma vez que eu tinha PHDA quando criança e que meus professores pediram-lhe para me medicar com Ritalina. Mas, embora isso possa parecer surpreendente, nunca me tinha ocorrido que um adulto como eu poderia ter PHDA, em parte porque, como a maioria das pessoas, eu não sabia que era possível sofrer com isso depois da infância.


Na verdade, só recentemente foi reconhecido no Reino Unido como uma condição em adultos. Depois de fazer alguma pesquisa em casa e lendo uma lista dos sintomas, fui tomada por lágrimas de alívio. Eu aprendi que a PHDA em adultos pode aparecer ao lado de muitos problemas relacionados, um dos mais comum é a depressão; que quaisquer problemas que você teve em criança tendem a persistir na vida adulta; e que os adultos com PHDA costumam encontrar problemas em manter o emprego, bem como manter relacionamentos.

Eu assinalei cada um dos sintomas: a partir de falar fora de hora, para continuamente começar novas tarefas antes de terminar as antigas, a uma incapacidade de lidar com o estresse, a extrema impaciência. Ter um diagnóstico fez com que, de repente, toda a minha vida fizesse sentido. Eu podia ver por que tinha lutado tanto para funcionar como as "pessoas normais". Finalmente, eu era capaz de parar de me culpar.

Eu fui levada a um psiquiatra especialista e em setembro deste ano comecei a tomar um medicamento de prescrição chamado Concerta, que é um estimulante de liberação lenta que trata a PHDA. Ter um diagnóstico fez com que, de repente, toda a minha vida tinha sentido. Eu podia ver por que eu tinha lutado tanto para funcionar como "pessoas normais". Também comecei a tomar um antidepressivo.

Embora ainda seja cedo, uma vez que encontramos a dose certa, os efeitos foram imediatos: eu acabo as coisas agora. Minha lista de coisas a fazer não é mais uma decoração, ele realmente fica atravessado fora. Minha casa é mais arrumada. E consigo planejar, priorizar e agir, por isso o meu negócio on-line está crescendo e eu estou ganhando mais dinheiro do que eu tinha antes, tudo o que é mudança de vida.

No geral, estou mais feliz, mais positiva. As pessoas na minha vida tem notado e são muito feliz. Mais importante, eu não me odeio mais. Eu não estou em um relacionamento no momento e, geralmente, eu ainda não socializo muito. E as pessoas que me atendem ainda pensam que eu sou diferente - não há nenhuma mudança aí!



Mas, no geral, eu sou um feliz cavador, estou confiante e sinto que estou percebendo meus sonhos e objetivos em uma maneira que eu nunca fui capaz de antes. Em apenas alguns meses, a medicação certa transformou a minha vida ao redor, e - finalmente - Eu sinto que estou prosperando.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

PHDA: Carta à escola e professores do meu filho





Este texto foi retirado do blog Energia a mais, é uma carta escrita por uma mãe à escola do seu filho, é um testemunho do que muitas criança com PHDA e outros problemas enfrentam nas escolas, no seu dia-a-dia. Ao lê-lo pode sentir a dor desta criança, dor essa que também os meus filhos sentiram... ficamos com sentimentos de revolta, tristeza, angustia e muita raiva...

Tenho imenso respeito pelos professores, mas infelizmente nem todos os que dão aulas merecem essa designação...


O Rafa nunca me deixou «descansada» desde o inicio do seu percurso escolar. Quando o tentei matricular pela primeira vez no ensino público, estava ele com idade de frequentar a pré (antes, foi a tortura de ter uma ama e das tormentas por que passei para deixar um bébé de meses entregue a alguém que não sabia lidar com ele) Entre conversas com a educadora e visitas ao estabelecimento onde o matriculei (antes de estar diagnosticado) fiquei com a ideia que tudo iria correr bem - nessa altura achava (como acham os pais estreantes nestas coisas) que os «problemas» de comportamento do Rafa seriam detetados caso fosse uma situação mais grave e que a escola teria mecanismos de apoio e acompanhamento precoce que seriam uma ajuda bem vinda. 
Puro engano - a primeira reação foi desvalorizarem e minimizarem as situações apresentadas, mesmo que elas fossem dificeis de gerir pela própria educadora...mas dar parte de «fracos» isso não! a educadora, conhecedora de muitos casos «problemáticos» (algo que parece ser comum a todos os docentes seja qual for o ano e qual for a escola) e muito sabedora na arte de lidar com meninos «difíceis» achou melhor ignorar todos os sintomas. Vómitos, recusa em comer, birras tremendas, fugas da sala...seriam apenas «fases» que depois de um período de adaptação, passariam e dariam lugar ao gosto de participar nas atividades como qualquer outra criança. Mas «fases» que nunca mais passam podem ser muito desgastantes...e quando as soluções apresentadas não resultam, podemos começar a ver a escola de outro modo...«se o menino se recusa a ficar na sala e a participar é a mãe que tem de o fazer entender que a escola lhe faz bem» isto é uma solução? uma ajuda? «a mãe não pode ficar nervosa quando o vem deixar...tem de o deixar e pronto.» eu? nervosa por o deixar na escola? eu quero que ele fique na escola, eu preciso que ele fique...mas que fique bem!! «é melhor ficar com ele na sala, mãe. Pode ser que assim ele fique mais calmo...» só pode estar a brincar, certo? se querem que seja eu a ficar na sala, mais vale ter o miúdo em casa...até que fica claro ao final do primeiro período que a «fase» é afinal mais complicada do que achavam e que teriam de haver adaptações por parte da escola, coisa que pelos vistos, as escolas nem sempre estão preparadas para fazer...

De estabelecimento público para IPSS pouco mudou na tentativa de me darem soluções. Embora o tenham encaminhado para a psicóloga, na tentativa de normalizarem o comportamento e as atitudes, as estratégias dentro da sala, pouco diferenciavam das usadas para com outros miúdos e após um ano de turbulência, o segundo (e que seria o último antes da entrada no ensino básico) terminou após o periódo de natal.

Entretanto chegou um diagnóstico e com ele muitas alterações em casa. Pais mais confiantes e ajudas com fármacos que melhoravam o comportamento e as reações dele. Mesmo assim, até aos ajustes da medicação atuarem de modo visível e os seus efeitos serem realmente eficazes, houve um primeiro periodo letivo em que tive de ser uma espécie de guardiã do portão da escola e fazia um esforço tremendo para o levar até lá, suficientemente motivado para voltar no dia seguinte. Ajudas? tenho de reconhecer que tive. A iniciativa partiu de mim... «arrisquei» e fui frontal desde o início. Conversei com os responsáveis e falei desta perturbação que lhe tinha sido diagnosticada, falei do modo como agia com ele em casa, das estratégias que considerava serem as mais corretas para que ele superasse as dificuldades inerentes à PHDA. Esclareci recorrendo ao apoio da APDCH e ao médico que o acompanha. Do outro lado? tive uma escola recetiva e uma professora empenhada. Dizem-me outros pais que tive sorte...reconheço que sim! mas nós pais e sobretudo as nossas crianças não podem depender da «sorte». O papel da escola não pode ser desigual, dependendo do estabeleciemnto de ensino ou de quem nele leciona. Existem métodos e estratégias que devem ser adotadas por todos. Para que haja uma igualdade nos critérios e nas exigências. Para que não se esteja dependente da opinião pessoal de quem tem o poder de decidir por que lado a escola vai seguir....

Agora o Rafa frequenta o quinto ano. Depois de um início atribulado com muitas faltas, muitos recados, muitas chamadas à escola, muita conversa minha, muito mostrar relatórios e muitos esclarecimentos, lá atravessamos um período de acalmia. Os resultados nos testes nunca foram o problema. Já mencionei algumas vezes que o Rafa é um menino muito inteligente (até acima da média) e com atributos de memória auditiva e visual apurados (comum em miúdos com esta patologia). Se concentrado, com ajuda da medicação e suficientemente motivado - quer em casa, quer na escola - ele consegue ser excelente aluno! tudo o resto, comportamento, atitude para com os professores e os pares, reação dele às dificuldades, podem ser, com a dose certa de disciplina e elogios, exigência e flexibilidade superadas.

Como coordenadora da APCH estão-me sempre a chegar às mãos casos e casos de falta de entendimento por parte da escola, muitas vezes única e exclusivamente preocupada em resultados, quase sempre entendendo desvalorizar o que os pais tentam fazer passar. Dizer que estes meninos devem ser «integrados» numa escola que pretende ser «inclusiva» é quase sempre sinónimo de uma tentativa de normalizar o que não é de facto «normal» e de ignorar o que realmente importa - as diferenças destas crianças (e de outras com NEE).
E é por isso que decidi, com a devida autorização, publicar uma carta de uma mãe dirigida aos professores do seu filho, mostrando o que sente verdadeiramente alguém que sofre com a PHDA, tantas vezes erroneamente tida como uma perturbação sem significado, uma alteração benigna que para ser alterada depende da força de vontade da criança e da maior imposição de disciplina dos seus pais...e reparem, como sem nos conhecer-mos e sem ter-mos tido qualquer contacto antes, o que esta mãe revela na carta, vem ao encontro do que atrás descrevi.
Não importa o nome nem a escola, agradeço no entanto à D. pela disponibilidade e pela sua luta

«Carta à escola e professores do meu filho, A.(...)

Estou desiludida, triste e magoada com a forma como alguns professores têm tratado o meu filho dentro da escola.
Sempre fui defensora dos professores, afinal são eles que nos ensinam a ser adultos, que ensinam os futuros políticos, engenheiros, doutores, carpinteiros, electricistas e todas essas profissões tão dignas que farão com que o nosso mundo funcione e melhor…
Eu tive professores assim, que me faziam sentir feliz e segura dentro da escola, que me motivavam e elogiavam, que salientavam os meus pontos positivos e ajudavam a aceitar e ultrapassar os negativos…
Que tinham como objectivo a inclusão, o respeito mútuo mas acima de tudo o amor pelo ensino e pelos seus alunos, o prazer de ensinar e a capacidade de fazer a diferença.
Quando o meu filho iniciou a vida escolar fiquei feliz, ele sempre foi um menino inteligente e perspicaz…muito activo, é verdade, mas sempre com resultados excelentes…talvez porque também teve o privilégio e a sorte de ter professores excelentes!
Sempre senti que havia algo de diferente com o André, nunca o escondi e várias vezes pedi ajuda à escola e aos professores para estarem atentos e verem se viam o mesmo que eu, tanto é que o André teve a sua primeira avaliação psicológica na escola aos 8 anos e a partir daí nunca mais deixei de tentar “descobrir” o que se passava com o meu filho!
Desde que iniciou o segundo ciclo tudo se complicou…passou a ser mais ansioso, desorganizado e desmotivado, auto-estima baixa, crises de choro, acompanhadas muitas vezes de cólicas, vómitos e até diarreia!
Na minha inocência de mãe, achava que eram apenas desculpas para não ir à escola e sempre, repito : SEMPRE o obriguei a ir à escola, mesmo quando ele me liga da casa de banho da escola a chorar e a implorar: “ Mãe, por favor tira-me daqui, tu não sabes o que seu sofro!” – nunca o fui buscar e, apesar de ficar arrasada por dentro e com o meu coração apertado, sempre o obrigo a ir à aula e lhe desligo o telefone…
Agora dou por mim a pensar que contribuí para isto tudo, que não protegi devidamente o meu filho!
Outras mães teriam ido imediatamente à escola, discutiam com os professores e protegiam os seus filhos…eu não, limitei-me a acreditar que ele era o culpado de tudo – pois a verdade é que ele não consegue mesmo estar quieto e assumo que se me faz perder a mim a cabeça, melhor fará perder a cabeça de quem não o “pariu” como eu e não o ama como eu, de quem não se habituou já a ser mais tolerante como eu…venceu-me pelo cansaço…admito…
Tantos recados na caderneta, tantas queixas do A., SEMPRE O A.
Eu própria acabei por permitir que o rotulassem…porque não gritei, não briguei, não o defendi, não exigi!
Mas eu não sabia tudo, ele não me conta, podem não acreditar, mas como ele acha que eu estou sempre “do lado dos professores”, deixou de me contar…e como a primeira vez que eu reclamei em relação ao Senhor Professor de Música, ele ainda foi mais penalizado, humilhado e maltratado na sala de aula, passando a ter sempre negativa, independentemente daquilo que faça na aula a ir mais vezes para a rua ou simplesmente a não o deixarem entrar na aula, ficando à porta um tempinho e só entrando mais tarde que os colegas, vai-se lá saber porquê! Sei estas coisas porque os colegas me contam…
Então deixei de ir à escola, impotente e com a esperança que ele recuperasse o interesse que tinha tão grande em aprender. Sim, ele ADORAVA a escola, absorvia tudo…e era feliz lá.
Agora não é, tem sofrido humilhações e maus tratos psicológicos, situações graves que o têm afectado imenso, que o fazem sofrer e estar revoltado…perdeu a confiança e eu também.
Era suposto o meu filho estar em segurança dentro da escola, não ser vítima de ninguém, muito menos de professores!
Era suposto eu estar despreocupada e não ter necessidade de escrever esta carta à escola a pedir, como MÃE : POR FAVOR, NÂO MALTRATEM O MEU FILHO!!
Não o vou permitir mais, nunca o devia ter permitido! Mas como podia eu saber? Como podia eu imaginar sequer que um professor, neste caso até são mais iria discriminar desta forma o meu filho?
Então fala-se tanto de EDUCAÇÃO INCLUSIVA e estão a excluir o meu filho?
Apenas porque não o compreendem? Porque não sabiam lidar com a situação? Porque ele é diferente e dá mais “trabalho” que os outros?
O Professor de EVT dava-lhe sempre 2, agora passou para 1 ?!
Ele tem os trabalhos na pasta, eu até acho que estão muito bons tendo em conta a dificuldade que ele tem a nível de motricidade e destreza manual, que é típico em crianças com PHDA (hiperactividade com défice de atenção)…
1 é para quem não faz NADA! 1 é para lhe dizer tu não vales nada, para o desmotivar e lhe “destruir” a auto-estima! 1 é para o chumbar!
Não vou permitir…CHEGA! O ano passado foi igual com EVT e Musica, teve sempre 2 e no final do ano passou com 3! Para quê? Porque o maltrataram o ano todo para depois lhe darem o 3?
Nem merece nota pelo esforço? Por tentar? Até lhe deram negativa em trabalhos que fez comigo!
Considero isso um “ataque” ao meu filho e agora, depois de tantos relatórios e psicólogos, sim, porque o meu filho anda no psicólogo, eu ainda não desisti dele, nem vou desistir ao contrário do que estes professores fizeram, depois de toda esta caminhada venho a saber que afinal o meu filho sofre de maus tratos na escola?
Também fiquei a saber o nome do problema dele PHDA…afinal o meu filho não é um mal-educado, afinal e não sou “uma tonta que devia dar mais educação ao meu filho em vez de tanto mimo”, como disse a professora de Inglês/Português…
Afinal estávamos TODOS errados…também assumo a minha culpa, pois fiz muita asneira antes de descobrir o que passa com o meu filho, mas também fiz uma promessa: Vou fazer tudo o que me for possível para que ele volte a ser feliz na escola e a recuperar o gosto por aprender que ele tinha.
Mas para isso preciso de ajuda, não posso andar a medicar o meu filho e ir às consultas de psicologia se depois o continuarem a maltratar na escola.
Senhora professora de EVT: NÂO QUERO mais o meu filho na arrecadação a fazer cópias e tabuadas! De pé, encostado ao lavatório toda a aula? Quem lhe deu esse direito? E ainda foi dizer ao meu filho que quer marcar um dia para falarmos sobre o facto de a senhora achar que o meu filho não FAZ NADA nas aulas de EVT?
Ainda pretende assustá-lo mais? Porquê? Decidiu entrar em “guerra” com uma criança?
É ridículo…ele tem 11 anos e os professores supostamente são os adultos dentro da sala de aula e como tal devem ser os primeiros a dar o exemplo, a mostrarem valores…como podem exigir respeito de uma criança depois de o maltratarem e de o humilharem?
Se ele está a fazer cópias e tabuadas é normal que não faça trabalhos de EVT…Mas marque o dia que eu terei muito gosto em ir visitar a arrecadação para ver como a senhora teve a coragem de humilhar e descriminar o meu filho dessa forma! Uma professora? Se os professores de EVT não estão em condições psicológicas de dar aulas que metam baixa ou atestado e que fiquem o lugar disponível para professores interessados em ensinar!
Estes professores têm prejudicado a vida e a saúde do meu filho, ao ponto de ele vomitar e ter cólicas antes destas aulas!
Agora já têm um diagnóstico, agora cabe a vocês senhores professores decidirem se vão continuar a prejudicar o meu filho ou se aceitam que erraram, como eu também já aceitei. Se estão dispostos a começar de novo e a colaborarem na minha luta pela recuperação da felicidade e auto-estima do meu filho e ajudá-lo a acreditar que os professores não vão voltar a tratá-lo mal.
Apenas pretendo saber: o meu filho está realmente seguro na vossa escola? Acho que ele merece um pedido de desculpas por parte destes professores e merece ser avaliado correctamente e com justiça, pois existe muita diferença entre os “favoritos” e os “indesejados” e uma coisa eu garanto : não o vou permitir mais!
O meu filho merece uma avaliação justa e merece ser bem tratado dentro da escola e a partir do momento em que foram informados do diagnóstico dele tinham “obrigação moral” de olharem para as avaliações dele e verem o tão injustos que têm sido, tanto no desempenho escolar, como no comportamento, pois ele não está quieto porque não consegue mesmo, se bem que agora que está medicado e tenho a certeza que isso já está a mudar!
Tirem o rótulo ao meu filho de mal-educado, não o descriminem mais e por favor ajudem-me a faze-lo feliz e a voltar a acreditar que as pessoas erram, mas que também assumem que erraram e sabem pedir desculpa por isso…
Apenas quero agradecer à professora e directora de turma F. R., pois sei que nunca desistiu do A., ele respeita-a, confia em si e vê-a como uma amiga.
Agradecer também à Psicóloga P. P. que apesar de tanto trabalho tem sido o meu apoio.

Obrigada!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

As expectativas e a realidade.



Hoje estive a ver um vídeo sobre os conselhos que os pais recebem ao ter um filho. Adorei um deles e com o qual concordo a 100%.

"Ao invés de molda-los ao que tu queres, descobre que eles são e deixa-os ser"

Nenhum conselho se aplica melhor aos pais com filhos com PHDA. Há que mudar expectativas, que aceitar e compreender quem eles são.

Acho que a grande frustração da maioria dos pais de crianças com PHDA é o facto os filhos não estarem a corresponder às expectativas que eles criaram para o seu filho. O sonho do filho ser um "bom menino", "normal", quieto, bom aluno. Um orgulho!

Quando se é pai de um PHDA essas expectativas tem que ser adaptadas à criança que temos, além de ser PHDA eles tem o seu feitio, as suas características. Quanto a mim, existem apenas duas expectativas em relação aos filhos: Que sejam boas pessoas ( humanos, educados, sensíveis, respeitadores) e que sejam felizes.

Nunca me preocupei com a carreira que iriam seguir, se seriam doutores, se seriam ricos ou famosos. Mas sim, que sejam realizados.

Eu também não correspondi às expectativas dos meus pais, eles queriam que eu fosse médica e eu sou enfermeira. Não por não ter entrado em medicina, mas sim porque enfermagem é a mais belas artes, é a arte do cuidar. É isso que eu gosto de fazer, gosto de cuidar, tratar, ajudar. Então os meus pais tiveram que aceitar e deixar-me ser feliz  à minha maneira.

O meu conselho aos demais pais: Ajudem os vossos filhos a se aceitarem, a lutarem pelos seu espaço e pela sua felicidade!