sábado, 23 de maio de 2015

Eu e a PHDA


Como acontece com a maioria das mulheres adultas só fui à procura do meu diagnóstico de PHDA depois do diagnóstico dos meus filhos e a conselho da pedopsiquiatra. Como já referi antes acreditava que iria a uma consulta e que viria de la´com um raspanete do médico, pois eu não tinha nada.

Com os anos fui formando estratégias para lidar com as minhas características, eu não aceito que a PHDA seja uma doença, é sim uma alteração neurológica do funcionamento do meu cérebro, com isso tenho características diferentes, tenho uma visão diferente da vida. Eu tinha e tenho uma maneira positiva de encarar a vida, sou mesmo a típica pessoa de que se a vida me dá limões vou fazer uma limonada e arranjo sempre açúcar para lhe por.

Quando saí do consultório com o diagnóstico da PHDA, saí com a certeza de ter descoberto a explicação para algumas das minhas características, não arranjei uma desculpa. Sim, eu sou assim é não vai ser aos 47 anos que vou me redescobrir e mudar, eu gosto de mim, da minha maneira de ser. Apenas arranjei uma ajuda para a minha distração, um coadjuvante para funcionar melhor nesta sociedade egoísta e apressada onde já não tempo para tentarmos perceber os outros e principalmente paciência para os aceitarem.

O que mudou neste ano? Algumas coisas, estou mais assertiva (mas com menos paciência), estou mais pontual, não me esqueço de pagar as contas e a procrastinação está bem menor. Quanto tenho que fazer alguma coisa faço, já não adio tanto. Claro que continuo a usar a agenda para tudo, mas anoto tudo, verifico sempre a agenda.

A medicação mudou algumas coisas básicas, mas o facto de ter tomado consciência do "problema" existente ajudou-me a montar outras estratégias, principalmente na educação dos miúdos,na marcação de tarefas e na exigência da sua execução. Passei a perceber porque a pedopsiquiatra se referia a nós como a família da harmonia no caos. Sei por vezes era um caos tentar gerir a vida familiar, ter que lidar com a minha desregulação da atenção e com as tarefas de uma mãe de família.

E agora a pergunta qual o feito negativo da medicação? Para mim foi uma redução drástica na paciência e na tolerância com os outros, tenho menos paciência para a estupidez, à qual anteriormente achava graça, estou mais assertiva nas respostas, para quem era conhecida por ser demasiado boazinha, agora tenho sempre uma resposta para dar e nem sempre simpática. Também aumento ligeiramente a minha tensão arterial e os meus batimentos cardíacos.

Mas no meio de todo esse caos, eu e o meu mais que tudo, também ele PHDA, conseguimos educar e equilibrar três filhos PHDA com as suas comorbilidades individuais e as suas características especiais. Criamos uma família harmoniosa, onde temos orgulho por todas as conquistas dos nossos rebentos e recebemos o seu respeito e amor.

Continuo com a minha certeza de que a PHDA não é nenhuma doença, nenhum bicho de sete cabeças, é apenas uma alteração neurológica do funcionamento do nosso cérebro e que mesmo sem o diagnóstico somos capazes de fazer as mesmas coisas que os demais mortais, principalmente se tivermos ao nosso lado pessoas que nos entendam, que nos aceitem, mas principalmente que nos ajudem. Precisamos sim que nos lembrem dos compromissos, das horas, das datas especiais, que percebam também e aceite que o que fazemos ou esquecemos de fazer não foi de propósito ou por não nos importarmos ou por sermos egoístas e irresponsáveis.

Se devem ajudar as pessoas com PHDA? sim, se as devem aconselhar a procurar ajuda? de certeza. Antes de tudo devem aceitá-las, compreende-las, nós somos capazes de tudo, não somos deficientes, não somos burros ou atrasados (excepto nas horas). Somos ser humanos normais com um funcionamento diferente. Amem-nos... e serão imensamente retribuídos

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