sexta-feira, 5 de junho de 2015

Resposta ao Bloco de Esquerda




Uma família PHDA, medicada sim, mas feliz!!!


A novidade agora é a preocupação do Sr José Soeiro e  da Sr ª Helena Pinto, deputados do Bloco de Esquerda sobre a PHDA.

Eu poderia começar com a pergunta de qual terá sido o "santo de orelha" que lhes soprou esta preocupação? Pois ao lermos o texto fica claro que pouca informação têm sobre esta perturbação e de como sofrem diariamente os seus portadores; sobre uma falsa preocupação com um suposto excesso de diagnóstico e de prescrição do metilfenidato deitam por terra todas as pequenas vitórias que nós os portadores de PHDA temos conseguido perante a sociedade.

O tratamento da PHDA baseia-se principalmente no metilfenidato que nos ajuda imensamente e em muitas famílias apenas nele, porque não possuem meios para fazer frente às despesas com os técnicos e terapeutas que poderiam ajudar os PHDA na sua vida, nas suas relações e na sua adaptação social. Que tal focarem a vossa preocupação neste tema ao invés de tentarem invalidar uma das melhores ajudas que temos.

Vamos por partes, em primeiro não somos hiperactivos, nós somos portadores de PHDA, essa denominação diminui-nos, reduz-nos. Ser PHDA é muito mais. Também não somos distraídos, temos dificuldade em gerir a atenção, temos redução da nossa memória de trabalho, temos graves problemas em gerir o tempo, etc. Com isso na infância temos dificuldades em fazer e manter amigos - pois somos inconstantes - temos imensas dificuldades em prestar atenção ao professor, as matérias e em decorar alguma coisa ou nos explicam e percebemos à primeira e aprendemos ou então arranjem outro meio para nos ensinar, repetir o mesmo não adianta. Quantas vezes os pais ouvem nas reuniões de notas "ele é inteligente, mas não utiliza todas as suas capacidades...." Na adolescência e na fase adulta o problema de interação social continua, associado à dificuldade no problema de gerir o tempo, com a dificuldade em gerir a nossa atenção em um ponto / assunto especifico na escola ou no emprego e com isso temos imensos problemas com o nosso rendimento.

Esta é uma doença da moda? Não é uma problemática antiga, da qual se fala mais hoje em dia o meu pai era PHDA (teria hoje 92 anos), só nunca o soube, apenas era incorrigível, maluco, inquieto...  e como a escola não era obrigatória foi "convidado" a desistir dela na 4ª classe, pois não dava para os estudos, sempre foi um aventureiro, imigrou para Angola, para o meio do mato e desenvolveu a sua vida econômica do nada, mas o seu sonho era ser corredor de formula 1 (aventura, adrenalina, risco). Hoje em dia a escola é obrigatória até aos 18 anos (e bem), mas não está adaptada para receber os alunos diferentes, os alunos únicos, especiais. A sociedade grita por diferenças, mas premia a homogenidade, devemos ser todos iguais. As escolas são caixinhas onde as criancinhas tem que caber e onde os out-box como nós não encaixam.

Será que sabem que esta perturbação é de origem genética em 90 % dos casos. Não se fica PHDA, nasce-se PHDA. Já conseguiram isolar o gene que causa a PHDA e segundo Barkley, (cit in LOPES, 2004), a PHDA é ‘um distúrbio de base genética caracterizada por um metabolismo deficiente dos neurotransmissores, que precisa receber um tratamento adequado’; o que explica dizendo: ‘A actividade cerebral que comanda a inibição do comportamento, a auto-organização, o auto controle e a habilidade de inferir o futuro está prejudicada por um metabolismo deficiente dos neurotransmissores, o que leva à incapacidade de administrar eficazmente os aspectos críticos do dia a dia’.

Com professores diferentes, mais atentos, mais informados e mais preocupados teremos menos problemas no nosso dia a dia. Um dos meus filhos teve uma professora excepcional na 3ª classe e os seus problemas nesse ano praticamente desapareceram, para no ano a seguir mudar de professora e chegar à 4ª classe com uma depressão e uma tentativa de "desaparecer", ele apenas queria dormir.... Os profissionais que lidam com os PHDA diariamente podem fazer toda a diferença na maneira como eles veem os outros ou a si mesmos e como vão interagir com a sociedade no futuro.

Existe um esforço enorme por parte das famílias para manter e elevar a auto-estima destas crianças, fazê-las perceber que elas podem fazer e ser tudo, sim terão que fazer o dobro do esforço para obterem metade dos resultados do que os seus colegas. É na família que estas crianças se sentem seguras, é ao amor incondicional dos pais que elas vão buscar forças para enfrentar o seu dia lá fora, pois lá fora geralmente é muito mau. Como já disse antes, se todos os pais de todas as crianças se dedicassem e se esforçassem tanto na educação dos seus filhos como os pais das crianças com PHDA todas seriam gênios, organizadas e educadas.

Tenho várias sugestões a fazer a estes senhores deputados:
- Falem com os portadores e com as Associações que os representam e tentem descobrir as verdadeiras necessidades dos portadores e de como nos podem realmente ajudar
- Formar / educar mais professores para esta e outras problemáticas
- Facilitar o acesso aos terapeutas através do Sistema Nacional de Saúde
- Facilitar a divulgação de informação correta sobre esta Perturbação
- Leiam também os trabalhos e estudos desenvolvidos pelo Sr. Dr. Professor Russell A. Barkley
- Consultem os profissionais portugueses que lidam diariamente com esta problemática

E quanto ao cerne da questão, haverá excesso de diagnósticos de PHDA? Não acredito, poderão existir alguns diagnósticos falhos, mas serão muitos mais os PHDA que por ai andam sem serem diagnosticados. Quanto ao metilfenidato pela minha experiência a nós PHDA ela ajuda-nos a gerir melhor a nossa concentração, por vezes as crianças acabam por ficar menos mexidas (não mais calmas) porque conseguem focar-se num único assunto. A medicação não nos cura, nem as ditas terapias, apenas nos ajudam a gerirmos melhor o nosso dia a dia. Mas já com os não PHDA o metilfenidato acaba por ser um estimulante e acabam por ficar mais mexidas, com mais energia.

Estou ao vosso dispor para quando quiserem conversar e trocar ideias.

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