segunda-feira, 29 de junho de 2015

Os incompreendidos






Por mais que se fale sobre a Perturbação de Défice de Atenção e Hiperatividade a sociedade ou mesmo a nossa família mais próxima nunca entendem realmente o que é, pois enquanto os médicos, psiquiatras, imprensa, associações, editoras, etc. continuarem a a tratar a PHDA como:
  •  uma coisa de "crianças”
  •  um assunto educacional ou pedagógico.

Uma criança com PHDA não é uma criança irriquieta, rebelde, revoltada, energética, confusa, mal educada. Mas, é sim uma criança com uma certa condição cerebral que lhe impossibilita ficar parado ou terminar os deveres de casa, mesmo que quando ele tem a intenção de os fazer.

Identicamente, um adulto com PHDA não é uma pessoa esquecida, despistada ou irresponsável, mas sim uma pessoa a quem essa condição impede de executar determinadas funções executivas no córtex pré-frontal. Não é que o adulto com PHDA não se proponha a realizar um esforço mental para tentar lembrar-se do que acabou de ouvir ou que não vá tentar terminar o que começou. Mas nós os adultos com PHDA acabamos por sofrer de um stress permanente, em grande parte porque passamos todo o dia a forçar nossa mente. Nós não temos falta de atenção porque não nos esforçamos, mas custa-nos horrores tentar manter o foco, e ainda mais quando alguém insiste em nos lembrar do que tínhamos que fazer esta tarde. Tentem perceber que já nos estamos a sentir mal connosco mesmos por não conseguirmos, e que a maneira como estão a relembrar-nos constantemente piora muito esse sentimento.

Já tive várias situações com as pessoas à minha volta a insistirem comigo de que preciso exercitar mais a minha mente, pois não fica bem ter sempre a agenda ou os postites espalhados pela casa ou o telemóvel com alarmes. Essas pessoas não entendem que a agenda, os alarmes e os postites são uma ferramenta fundamental para o meu desempenho dentro da minha desordem, esse apoio é necessário e é uma ajuda para não me sentir inútil. E socialmente não se é bem aceite quando se é esquecido, distraído, desajeitado, impulsivo e procrastinador ... mas convém que saibam que nos esforçamos e muito para fazer melhor, daí o nosso alto nível de stress. Acredito que trabalhar/lidar com um PHDA pode não ser a tarefa mais fácil de todas, mas garanto que nos esforçamos para cumprir os prazos, os compromissos e para isso dependemos totalmente das nossas agendas e lembretes. Também precisamos de mudanças de cenário constantes, pois pedir-nos para passarmos uma tarde no mesmo lugar, sossegados é quase torturante.

Além disso, ainda temos uma percepção distorcida do tempo. Na maioria das vezes não temos noção do tempo e da sua velocidade, 5 minutos é muito tempo, mas quando vamos a ver já passaram 15 minutos e de novo estamos atrasados. Ou chegamos absurdamente cedo ou chegamos atrasados.

Eu não tenho orgulho em ser PHDA e não é nada engraçado ser PHDA, mas aprendi a aceitar-me e a conviver com as minhas idiossincrasias e características. E preciso que a sociedade perceba melhor como funciona o cérebro de um PHDA. A PHDA precisa ganhar visibilidade e assim pode ser que possamos ter alguma compreensão por parte dos nossos pares.

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