domingo, 7 de junho de 2015

A doença da moda "Falar mal da PHDA"




Como já disse somos uma família PHDA, somos felizes à nossa maneira, sempre juntos, a  conviver, a nos apoiar, mas principalmente sempre a sorrir.

Aqui em casa somos apoiantes fervorosos da medicação, pois sabemos perfeitamente o que ela nos faz, como melhora a nossa qualidade, talvez não de vida, mas de trabalho, de produção. Se vivêssemos em outra sociedade, e em outros tempos ela não nos faria tanta falta, pois poderíamos ser espontâneos, impulsivos, sonhadores, criativos à vontade, mas por aqui temos que dar rendimento ou chumbamos o ano, ou perdemos o emprego, além de que ninguém nos suportaria com os nossos atrasos, a nossa tagarelice, e as falhas de memória.

Ontem tivemos mais uma perola na televisão e mais uma vez fizeram com que fizéssemos figura de urso. Pois afinal parece que os médicos não sabem o que andam a fazer e brincam de diagnosticar e medicar as crianças para a doença da moda. Os pais são uns tontinhos que não sabem o que fazem e dão comprimidos aos filhos ( que lhes fazem muito mal) e com isso as farmacêuticas ganham muito dinheiro.

A história de sucesso da Joana passou num flash, mas a história do Duarte levou o programa todo, pois o importante é convencer o público de que a PHDA não é um problema. A história da joana ficou misturada ao "trafico" de metilfenidato pelos universitários. Afinal a Joana era universitária quando começou a toma-lo. Mas aonde ficaram na reportagem os ganhos em qualidade de vida da Joana e de todos nós? Aonde estavam retratados todos os nossos problemas? As nossas dificuldades diárias?

A Dr ª Ana Rodrigues foi sub-aproveitada pelo programa, tinham ao vosso dispor uma das maiores especialistas em PHDA de Portugal e pouca voz lhe deram, provavelmente não era do vosso interesse desmistificar a PHDA e sim aumentar o caos em que vivemos.

Pareceu-me um programa de encomenda, temos um governo que já reduziu o ensino especial, já reduziu os subsídios, estará a tentar se justificar para mais cortes nas ajudas com as terapias e com a medicação? E assim tem a opinião pública ao seu lado? Pois estamos a "roubar" a segurança social.

Eu posso falar de tudo isso porque nunca recebi nenhuma ajuda, tudo o que consegui com a minha família foi com o meu esforço e o do meu marido. No público os meus filhos não tinham atendimento porque eram crianças normais apesar da PHDA e eles não tem tempo para atender todas as crianças que lhes aparecem e com piores quadro do que os meus filhos, eu percebo-os e sei a escassez de pessoal que eles tem. Na privada encontrei uma excelente pedopsiquiatra que nos ajudou imenso e ainda ajuda.

Quanto a terapeutas? O que senti foi que estava a deitar dinheiro pela janela, dinheiro que não tenho numa família de 5 pessoas e sem ajudas. Tentamos e não vimos resultados e vimos que tínhamos que ser nós a fazer tudo. Eu sei que moramos num canto escondido do mundo, se temos menos barulho, menos congestionamentos, engarrafamentos, temos também menos técnicos, especializados? nenhum... Mas temos mais preconceito, mentes mais fechadas, etc

E na escola? Em 14 anos encontramos 4/5 excelentes profissionais, mas a maioria ou não quer saber porque os miúdos dão muito trabalho para ser ensinados como devem, ou sabem que a culpa é dos pais que não estudam com eles em casa, que não os educam. Eu sei que para a escola eu sou uma mãe relapsa.

Mas tenho imenso orgulho no que conseguimos, quando vou a uma consulta e a médica me diz: "Fizeram um excelente trabalho, apesar de todas as comorbilidades (cada um deles tem as suas) eles estão bem, estruturados e felizes". Fizemos o nosso trabalho, educamos excelentes seres humanos, educados, que se preocupam com os outros, que não são egoístas, rancorosos ou mimados.

Ainda têm que amadurecer, que crescer, mas não temos pressa, eles precisam ser crianças e adolescentes antes de serem adultos responsáveis. Sei que vão crescer no seu próprio ritmo e apesar de todas a pedras que lhes puseram no caminho eles superaram-nas e seguiram em frente. Sim com algumas cicatrizes, com muito sofrimento, com muitas lágrimas, mas o resultado final é infalivelmente um sorriso.

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