quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A PHDA não deve ser um problema



Não considero que a PHDA seja um problema de saúde, ou uma doença, pois significaria que teriam cura ou tratamento, o que não é o caso.

Muitas das vezes em que vamos a uma consulta saiu de lá com a sensação de que viver em sociedade significa encaixarmos-nos dentro de uma caixa, se temos este sintoma somos isto, se temos o outro somos aquilo e quando temos umas coisas de um e outras de outro não sabem o que fazer connosco, não tem caixa onde caibamos e depois tentam nos diminuir até cabermos em alguma caixa.

Nesta sociedade de iguais não podemos ser "out-box", não devemos ser diferentes e por isso não somos compreendido. Uma coisa que se torna frustrante é sermos analisados e "tratados" por pessoas ditas normais. Elas não sabem e não sentem na pele o que sentimos, pelo que passamos. Quais são as nossas reais dores, o que nos faz sofrer...

Por vezes apenas nos tentam "normalizar" para a vida em sociedade, por que não lutar por uma sociedade diferente, que nos comece a conhecer e a nos aceitar. Temos muitas caracteristicas diferentes, mas nem todas elas são más. A nossa ingenuidade, a nossa sinceridade a nossa falta de habilidade para fingirmos (sim, podemos fingir, mas não por muito tempo e isso nos custa imenso), a nossa alegria, efusividade, o nosso pensamento a mil, a nossa mente sempre com ideias novas ( nem todas aproveitáveis), a nossa criatividade.

Termos um filho adolescente que nos diz, mãe eu não tenho amigos, eu sou um "forever alone", jovens que se refugiam na família, no seu porto seguro, pois lá fora é mau, lá fora estão sozinhos ou são ignorados ou gozados e humilhados. Jovens carinhosos, meigos, doces, sensíveis, alegres, mas que não se conseguem controlar e fingir serem "normais" e mesmo que conseguissem, para estarem bem com os outros não estariam com eles próprios!

É extremamente duro e solitário fingirmos, e controlar-mos o que dizemos, o que fazemos. Não podemos ser nós mesmos e acabarmos por ser uma pessoa perante os outros, mesmo a família e ser outra pessoa na nossa mente, onde podemos sonhar, ralhar, e soltar as amarras. Eu passei por isso, na minha infância e adolescência, sempre controlada pela família, pela sociedade ao ponto de a minha própria família não saber que eu era, como eu pensava, o que eu sonhava. Mas uma das características da minha PHDA prevaleceu, sempre fui otimista, sempre a ver o lado positivo das coisas, sempre a tentar ajudar alguém.

Talvez seja esse o motivo pelo qual escolhi a minha profissão. Enfermagem em urgências

Mas tive algo de muito bom na minha vida, um pai portador de PHDA, que me apoiava, mesmo que não concordasse, que era um sonhador, que via a vida de maneira diferente dos demais, sempre alegre a assobiar as suas canções. Mais tarde reencontrei um grande amigo que passou a ser o mais que tudo, que também é um PHDA, que vê a vida com outros olhos, e que teve a sua cota parte de sofrimento. Mas que me ajudou a me libertar e a me mostrar como sou ao mundo.

Foi o primeiro passo para a luta que agora travo pelo reconhecimento e aceitação da PHDA, pois só quem sente na pele, sabe o que é e como doem os olhares, as criticas.

Eu sou Portadora de PHDA e gosto da pessoa em me tornei, louca, alegre e com muito orgulho na minha família.

Sem comentários:

Enviar um comentário