terça-feira, 7 de abril de 2015

Superar a PHDA



Talvez por eu ser PHDA tenho uma perspectiva diferente dos problemas que os meus filhos enfrentam. Consigo me por no seu lugar e sentir a dor que eles sentem.

Por isso a minha relação com eles é uma relação aberta e verdadeira, eu não lhes minto, eles não me mentem. Para mim esta é a base de qualquer relação. Só assim conseguimos que eles confiem em nós.

Sempre lhes dissemos qual era o seu diagnóstico e o que era ser PHDA. Mas nunca lhes pintamos um quadro negro de uma deficiência. Parte desse quadro já eles o tinham no seu dia-a-dia, no relacionamento com os colegas, com o tratamento por parte dos professores e da escola. Nós tínhamos que lhes mostrar que eles são capazes de muito mais e que são muito mais do que apenas um diagnóstico, eles têm PHDA, mas não são PHDA. Eles são capazes de tudo, basta que queiram e que façam o que gostam, com esforço e com apoio.

Estamos sempre prontos para lhes dar atenção, para ouvir as suas dúvidas e as suas angustias e as suas asneiras. Por vezes tenho que ouvir coisas das quais não gosto ou não concordo, mas forço-me a estar aberta para todas as conversas, pondo sempre a minha opinião e como sempre os respeito eles acabam por respeitar a minha opinião e dão-lhe valor. E na maioria das vezes chegamos a um acordo entre todos.

Eu passei por muitas das situações por que eles passam, mas com a sorte de ter vivido num pais mais aberto e sem tantos tabus, acabei por sofrer muito menos do que eles e sempre tive amigos, sempre me dei bem com os professores. Nunca um professor me chamou de atrasadinha, burrinha, lentinha. E isso fez toda a diferença.

A minha filha sempre se sentiu controlada e julgada por todos, é uma miúda expansiva, alegre, espontânea sempre com um sorriso no rosto e acabei por ver-la com uma depressão devido ao ambiente que ela enfrentou com os colegas da secundária. Nunca a tentaram perceber, apenas a julgavam e perderam a chance de conhecer um ser humano fabuloso.

Um dos meus filhos foi vitima de bullying físico e psicológico por parte das professoras e dos colegas, quando fui falar com o director de escola ele respondeu-me que o meu filho tinha a "síndrome do cão batido", tanto tinha apanhado que agora reagia à mínima provocação. Chegaram a levá-lo para a casa de banho e tirar-lhe a roupa, por na sanita puxarem a descarga e voltar a vesti-lo com a senhora funcionária no corredor que não viu um miúdo todo molhado e a senhora professora também não viu. Um miúdo doce, meigo, sensível que é capaz de tudo para ajudar o próximo e que a sua maior ambição era ter um amigo. Um miúdo que nunca teve uma festa de aniversário, pois apesar de serem realizadas nunca apareceu nenhum dos convidados e doía-nos na alma ver a sua tristeza.

Por isso os meus filhos tem todo o meu apoio, toda a minha paciência e se alguém os magoa, magoa-me e eu vou com tudo para defende-los. E apesar de todos esses percalços são jovens felizes e que se aceitam como são e que gostam do que são.

Não me venham falar com crianças PHDA mal educadas, pois os supostos normais são muito piores e muito maus, mas os seus pais não sabem e não conhecem os seus ricos filhos perfeitos. Talvez se falassem mais com os filhos ou lhes dessem melhores exemplos eles aceitassem o que é diferente. Pois, mas nesta sociedade o importante é parecer, não é preciso ser.

 A sociedade é má, injusta e os PHDA sofrem muito com isso, pois em geral são sinceros, honestos e sensíveis. Eles são, na minha opinião, a esperança de salvar o futuro desta sociedade se lhes derem uma chance. Pois os PHDA só sabem SER!

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