segunda-feira, 6 de abril de 2015

Entrevista com Casas José Rivero




Entrevista com Casas José Rivero - um especialista em Medicina do Adolescente do Hospital Infantil Universitário La Paz, em Madrid. Ele tem uma vasta experiência com os jovens que têm a Perturbação de défice de atenção e hiperatividade (PHDA). Na sua opinião, "ser hiperativo ou ter défice de atenção não é mau; são miúdos hilariantes e emocionantes ".

Qual é o papel do pediatra na detecção de PHDA?

Os pediatras estão numa posição ideal para detectar o PHDA, como muitos outros distúrbios da infância. Sabemos que acompanham as crianças desde o nascimento até  a sua passagem a adultos. São capazes de detectar o mais cedo possível a patologia, o que permitirá tratá-los de forma mais adequada, de modo a que o prognóstico e evolução dessas crianças seja muito melhor. O pediatra está numa posição privilegiada para detectar todos esses transtornos.

Em particular, como é a abordagem do adolescente, que é a sua especialidade?

É diferente, especialmente quando não diagnosticada previamente. Muitas vezes vão de fracasso em fracasso, e na adolescência, o pediatra deixa de os ter sob seus cuidados, pois na medicina oficial o pediatra deixa de os acompanhar aos 14 anos, e os médicos de adultos muitas vezes não se sentem confortáveis​com este tipo de pacientes. Não há suficientes profissionais treinados para lidar adequadamente com adolescentes, assim, a rejeição desses pacientes por qualquer profissional geralmente é muito grande,  uma vez que não os sabem entrevistar, tratar ou acalmar seus medos, ansiedades na consulta. Esses jovens não são geralmente fáceis de manusear. Os pacientes com PHDA, quando não diagnosticada, às vezes vêm até nós com complicações secundárias à sua PHDA, como o abuso de drogas, o insucesso escolar ou problemas na sua vida familiar. Tudo este mare magnum de sintomas faz com que seja mais difícil chegar a um diagnóstico.

Como deve contactar o adolescente? O atendimento é diferente de uma criança ou de um adulto, certo?

Você tem que estar preparado para se adequar à idade do paciente. Não é o mesmo ter um menino de 12 anos, que está começar a adolescência, um de 14 ou outro de 18. As perspectivas são distintas, e tanto a capacidade cognitiva como a sua maturação cerebral são completamente diferentes.

Como é a linguagem que você usa para atingir adolescentes? Como você se aproxima deles para tentar aprender sobre seus costumes?

Essa é a arte da medicina, a parte mais bonita. Às vezes é muito difícil entrevistar um adolescente, porque na maioria dos casos eles não não vêm por vontade própria, mas são trazidos pelos seus pais, porque estão preocupados com algo que talvez o adolescente não reconheça. O menino chega à consulta zangado, com raiva, e nós temos que ganhar a sua confiança. Custa-lhes imenso ter uma conversa  sobre sua vida, especialmente sobre os seus assuntos secretos, tais como o uso de drogas ou sexo. Muitas vezes, na consulta, ao ser entrevistado sozinho é a primeira vez que o garoto de 15 ou 16 anos é tratado como um indivíduo de igual para igual, não como uma criança, e você vai reconhecer as suas preocupações, suas cargas e medos do futuro ou o passado.

Como é o primeiro contacto? Os pais estão presentes?

Independentemente da patologia que  têm costumo ver o paciente com seus pais. Desta forma, os pais nos dizem o que os preocupa. Além disso, investigamos como tem sido no passado e como é a relação familiar. Em muitos casos, a linguagem não-verbal nos ajuda mais do que o que nós estamos à espera. É importante o adolescente ver e entender que seus pais estão preocupados por uma série de razões. Mais tarde, nós falamos a sós com o paciente, preservando o segredo do que tem para nos dizer.

Nestas idade vêem-se mais as  consequências do que os sintomas?

Muitas vezes assim é.

Diz-se que o PHDA afecta mais aos meninos do que as meninas. Será que isso também ocorre entre os adolescentes?

Isso é um 'bluff'. Os meninos são mais brutos, mexem-se mais e incomodam. As meninas são mais espertas, dissimulam melhor e são menos impulsivas, em geral passam despercebidas. Em casos extremos ambos os sexos são iguais. Além disso, a associação de hiperactividade e défice de atenção com outras doenças é alta.

Que tipo de trabalho fazem com os jovens e seus pais?

Cada vez temos mais informação, o que ajuda. Quando se diagnostica um adolescente, muitas vezes, dizem-nos que há outro familiar igual. A formação na gestão dessas crianças é um dos pilares do tratamento, além de farmacológica, psicológica ou psicopedagógica. Outro pilar importante é que os pais saibam manejar estes pacientes. Um adolescente recebe cerca de 30 ordens por hora, das quais é capaz de cumprir 50 por cento. Crianças ou adolescentes hiperativos recebem até três ou quatro vezes mais ordens e só são capazes de satisfazer 20 por cento delas. Por isso, a sensação de fracasso, frustração e raiva da criança e dos pais é brutal. Precisamos educar os pais para dar uma ordem de cada vez, e muito lentamente, porque com alguma sorte ele vai cumprir-la. A educação se baseia em como se distribui o trabalho, em definir limites, em recompensar e realçar o que a criança ou adolescente é capaz de fazer bem. Todos nós gostamos de nos digam o quão bem nós fizemos um trabalho.

Por vezes há relutância dos pais em dar o tratamento medicamentoso para crianças mais novas. Isso também estão na adolescência?
A resistência é basicamente  a mesma. Às vezes, eles vêem como um alívio, quando as famílias estão em uma situação limite, porque os adolescentes têm outros problemas associados, tais como transtornos de personalidade ou são oposicionistas desafiadoras.

Quais são as consequências no caso de crianças que não estão a ser tratados correctamente?

Se uma criança hiperativa precisa de tratamento, quanto mais cedo for tratado melhor o seu progresso. É algo que estudos já demonstraram. Se estas crianças forem bem tratadas, o comportamento e o desenvolvimento será semelhante ao dos outros adolescentes. Nos meninos que não são tratados é multiplicada por cinco a chance de se meterem em problemas, abusando de drogas ou álcool, etc..

Por que uma pessoa com PHDA pode ter tais problemas graves, como a dependência de drogas? Por que certos comportamentos de risco?

Porque eles não têm controle em inibir o que eles gostam de fazer. Estes jovens não medem as consequências são muito impulsivos. É divertido experimentar tudo e é uma parte normal da adolescência. O ponto é que como não medem o perigo, eles podem entrar em apuros.

Não percebem o risco ou vêm mas não lhes importa?

O misto dos dois. Na adolescência, é normal até certo ponto, devido à evolução da maturação cerebral. Assumir riscos porque eles não pensam ou porque lhes dá igual.

Na infância o papel dos professores é crucial. E sobre os educadores dos adolescentes também é preciso treiná-los?
Claro, mas é mais difícil, porque não há apenas um tutor, mas vários. Deixam de ser educadores e professores para serem transmissores de conhecimento. O papel do professor-mestre de referência foi perdido, infelizmente.

Existe escalas para tratar adolescentes e suas famílias e os educadores?

Sim, utilizamos as escalas, elas apoiam-nos, mas não são exclusivas. O diagnóstico é clínico. Tal como no resto da medicina, o historial médico é fundamental.

Qual é o tratamento, uma vez diagnosticada a doença?

O tratamento é basicamente o mesmo que para as crianças. Temos vários pilares, em primeiro lugar, farmacológico, que felizmente têm uma ampla gama de medicamentos que podem ser utilizados. Além disso, há também, a escola, a psicologia educacional, a terapia psicológica, a familiar e em alguns casos graves, pode ser necessário um tratamento psiquiátrico.

Em Espanha, que profissional de saúde é responsável pelo tratamento de crianças com PHDA?

É igual que sejam psiquiatras, neurologistas ou pediatras. Deve ser, quem sabe como fazer. É uma doença em que os neurotransmissores estão alterados, mas com manifestações de comportamento que podem ser tratados por um pediatra, psiquiatra, neurologista.

Nós já refutamos o mito de que o distúrbio afecta mais os meninos do que as meninas. Há mais falsas crenças?

Às vezes ouvimos frases como "isto se trata com duas palmadas, deram-me quando era pequeno e olha que bem me fez". A sociedade mudou e se antes de estas situações se controlavam com duas palmadas, agora existem muitas outras alternativas. Antes havia uma bicicleta para todos os irmãos, se houvesse. Agora, cada criança tem a sua moto, seu scooter, Wii ... Portanto, a capacidade de dispersão é brutal.

Que mensagem pode ser enviada para os meninos e seus pais? Que conselho você daria?

Ser hiperativo ou ter défice de atenção não é necessariamente mau. Na verdade, eles são crianças hilariantes e emocionantes. Possivelmente, para muitas profissões é bom, porque eles são pessoas extremamente criativas e imaginativas. Muitas vezes, dão soluções e têm uma visão diferente dos demais. Não é mau ser hiperativo, pelo contrário, ousar fazer coisas que os outros não se atreveriam e se interessarem com coisas que aos outros não interessariam. Muitas vezes não temem o fracasso, e se fracassam eles começam novamente. Grandes artistas, empresários ou empreendedores eram assim.

Traduzido de: http://www.comunidad-tdah.com/noticia/ser-hiperactivo-o-tener-deficit-de-atencion-no-es-malo-son-chavales-divertidisimos-y-emocionantes por Anabela Gomes

Sem comentários:

Enviar um comentário